Alguns apontamentos de geologia da Gruta dos Morcegos (Some geological notes regarding Gruta dos Morcegos (Bat´s Cave)

•21 / 09 / 2021 • Deixe um Comentário

Rodrigues, Paulo:1,2,3
1)- Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua General Pereira de Eça, n.º 30, Alcanena
2380-075 ALCANENA
(2)- Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares
(3)- Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia, Estrada Calhariz de Benfica, 187, 1500-124 Lisboa   

Email de correspondência: paulor2005@yahoo.com

Resumo:  A Gruta dos Morcegos é uma gruta que se desenvolve num bloco tectonicamente elevado, entre os polges de Minde e Alvados, em calcários da formação de Calcários Micrítos da Serra de Aire (Jurássico Médio). O controlo estrutural do desenvolvimento da gruta não é claro.  A gruta formou-se na zona freática com a água a circular em direção à boca da gruta. Com a  descida relativa do nível de base, a gruta passou para a zona vadosa inativa. A descida do nível de base estará associado à movimentação tectónica.

Abstract: Gruta dos Morcegos is a cave developed in a tectonically lifted block, between the Minde and Alvados’s polges, in limestones from Calcários Mícritos da Serra de Aire formation (Middle Jurassic). The cave’s structural control is unclear. The cave was formed in the phreatic zone, groundwater circulating towards the cave entrance. Due to the relative descent of the base level, the cave passed to the inactive vadose zone. The base level descent is associated with tectonic movement.

Palavras-chave: Gruta dos Morcegos, Polje, Alvados, Gruta freática, Espeleogénese, Tectónica.

Keywords: Gruta dos Morcegos, Polje, Alvados, Phreatic cave, Speleogenesis, Tectonic

English version below

Introdução

Durante alguns anos este levantamento geológico esteve “na gaveta” e chegou agora a hora de ver a luz do dia. O levantamento topográfico foi realizado pelo Grupo de Espeleologia e Montanhismo, em 2016, com os trabalhos de campo liderados por José Ribeiro.

Localização

A Gruta dos Morcegos situa-se na localidade na união de freguesias de Alvados e Alcaria, concelho de Porto de Mós, distrito de Leira, na unidade hidrogeomorfológica do planalto de Santo António no Maciço Calcário Estremenho. A gruta desenvolve-se no extremo Oeste da elevação que separa os polges de Minde e Alvados, não muito longe do seu topo, com a entrada a abrir-se à cota 436m. A gruta  tem uma boca bastante larga, onde depois de um ressalto de cerca de 3m se consegue aceder ao interior da gruta.

Enquadramento Estratigráfico e estrutural

A gruta desenvolve-se segundo a Folha 27-A- Vila Nova de Ourém da Carta geológica de Portugal à escala 1/50000 integralmente na formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano (Jurássico Médio). A formação segundo Manuppella et al, 2000 é composta por calcários. Integra segundo Crispim, 1995, a Formação cársica do Jurássico Médio. Trata-se de uma formação com potencial de casificação elevado.

A gruta situa-se num bloco calcário, tectonicamente pela Falha de Alvados-Minde e falhas associados. A Falha de Alvados-Minde apresenta, nas proximidade da gruta direção este-oeste.

A figura 1 apresenta a localização da gruta num extrato da Folha 27-A – Vila Nova de Ourém da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000.

Figura 1 – Extrato da Folha 27-A – Vila Nova de Ourém da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000.

Espeleometria e descrição da gruta

A gruta apresenta um desenvolvimento total de 207m, com um desnível total, de 33metros. A cavidade é composta por uma primeira sala, de secção de diâmetro de ordem de grandeza métrica, que através de um poço, com 5m de profundidade, dá acesso a uma galeria inferior, também de diâmetro métrico de direção inicial norte-sul que, após algumas dezenas de metros, vira para este, já com o fundo da gruta coberto de blocos.  De salientar uma ligeira corrente de ar na zona terminal da gruta.

Figura 2 – Planta da Gruta dos Morcegos

Figura 3 – Perfil estendido da Gruta dos Morcegos

Figura 4 – Ficha de equipagem da Gruta dos Morcegos

Planta da Gruta dos Morcegos para descarregar em pdf

Perfil Estendido da Gruta dos Morcegos para descarregar em pdf

Ficha de equipagem da Gruta dos Morcegos para descarregar em pdf

Controlo estrutural  

O controlo estrutural não é claro. A gruta é atravessada por várias fraturas sobretudo de atitude E-W/Vertical, que na maior parte gruta não condicionam o seu desenvolvimento, mas que na sala de entrada  e sobretudo no troço terminal da gruta aparentam controlar esses setores. Algum controlo associado à atitude das camadas  (N40W/20SE), não é de excluir, embora não seja evidente.

Génese

A gruta formou-se na zona freática, de acordo com a definição de Bögli, (1980), como evidenciado pela secção arredondada, vagas de erosão e cúpulas, existentes na gruta. A gruta é atualmente um troço fossilizado de um antigo coletor, que com a descida relativa do nível de base, passou para a zona vadosa inativa. A descida do nível de base estará associado à movimentação tectónica, dada a cota elevada a que a galeria da  gruta se desenvolve, 433 a 403m e à proximidade à Falha de Alvados-Minde, que de acordo com Cabral e Ribeiro, 1988 é uma falha ativa. Um abatimento na parte terminal da gruta, do qual resulta o caos de blocos que preenche grande parte da galeria, provocou o seccionamento deste troço, do restante da gruta.

Paleocirculação

As vagas de erosão observadas têm um comprimento que variou entre 0,5 e 0,4m, com o sentido de circulação grosseiro para a entrada da gruta.

Conclusões

A Gruta dos Morcegos é uma gruta que se desenvolve num bloco tectonicamente elevado, entre os polges de Minde e Alvados, em calcários da formação de Calcários Micrítos da Serra de Aire (Jurássico Médio). A cavidade tem um desenvolvimento total de 207m, e um desnível de 33metros. O controlo estrutural do desenvolvimento da gruta não é claro. A gruta é atravessada por várias fraturas sobretudo de atitude E-W/Vertical, que na maior parte gruta não condicionam o seu desenvolvimento. Algum controlo associado à atitude das camadas (N40W/20SE), não é de excluir.

 A gruta formou-se na zona freática com a água a circular em direção à boca da gruta. Com a  descida relativa do nível de base, a gruta passou para a zona vadosa inativa.  A descida do nível de base estará associado à movimentação tectónica, dada a cota elevada a que a galeria da  gruta se desenvolve, 433 a  403m e à proximidade da Falha de Alvados-Minde.

Agradecimentos

Agradecemos a todo os que participaram nos trabalhos de campo, na exploração  e levantamento topográfico: Buno Pais, Florbela Silva e em particular a José Ribeiro que liderou a equipa de topografia e fez a arte final da topografia. No levantamento geológico a Filipe Castro, Alda Reis e Teresa Cardoso.

Referências Bibliográficas

Bögli, A. (1980), Karst Hydrology and Physical Speleology, Springer-Verlag, Berlin Heildelberg New York.

Crispim, J.A (1995) – Dinâmica Cársica e Implicações Ambientais nas Depressões de Alvados e Minde. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para a obtenção do grau de Doutor em Geologia, especialidade de Geologia do Ambiente. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Departamento de Geologia.

Manupella, G., Telles Antunes, M., Costa Almeida, C.A., Azerêdo, A.C., Barbosa, B., Cardoso, J.L., Crispim, J.A., Duarte, L.V., Henriques, M.H., Martins, L.T., Ramalho, M.M.; Santos, V.F.; Terrinha. P.; (2000). Carta Geológica de Portugal – Vila Nova de Ourém, Folha 27-A, à escala 1:50000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

 Martins, Alfredo Fernandes, 1949.  – Maciço calcário estremenho: Contribuição para um estudo de geografia física. Coimbra,

 J. Cabral e A. Ribeiro, 1988, Carta Neotectónica de Portugal Continental, na escala de 1:1 000 000Categoria: Cartografia, Cartografia em Papel, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

English version

Introduction

 For years this geological survey has been “in the work desk” and now it’s time to see the day light. The exploration and topographic survey were carried by Grupo de Espeleologia e Montanhismo, in 2016.  Topographic survey led by José Ribeiro.





Location

Gruta dos Morcegos (Bat’s cave) is located near the town of Alvados, Porto de Mós’s municipality, Leiria’s, district, in Central Portugal. The cave develops in the hydrogeomorphological unit of Santo António Plateau, in the Maciço Calcário Estremenho (Estremadura Limestone Massif).

 The cave is located at the western termination of an elevation that separates the Minde and Alvados’s  polges, not far from the elevation top, with the cave´s entrance at an elevation of 436m. The cave has a quite wide mouth, where after a 3m step one can access the cave’s interior.

  Stratigraphic and structural tectonic

The cave develops, according to Sheet 27-A-Vila Nova de Ourém of the Geological Chart of Portugal at a scale 1/50000, entirely in the formation of Micritic Limestones of Serra de Aire, dating from the Batonian (Middle Jurassic). The formation according to Manuppella et al, 2000 is composed of limestone. It integrates according to Crispim, 1995, the Karst Formation of the Middle Jurassic. A formation with high karstic potential.

 The cave is in a limestone block, tectonically lifted by the Alvados-Minde’s Fault and associated faults. The Alvados-Minde’s Fault presents east-west direction near the cave.

  Figure 1 shows the location of the cave in an extract from Folha 27-A – Vila Nova de Ourém of the Geological Chart of Portugal at scale 1/50000.

 

Figure 1 – Extract from Sheet 27-A – Vila Nova de Ourém of the Geological Chart of Portugal at scale 1/50000.

Speleometry and cave description

The cave has a total development of 207m, with a total depth of 33m. The cave is composed of an initial room, with a section of metric magnitude, a 5m deep pit, gives access to a lower gallery, also of metric size section. The gallery has initially a north-south direction, which, after a few dozen meters, turns east. The cave´s floor covered with blocks. One must notice a slight air current in the terminal area of ​​the cave.

Figure 2 –Gruta dos Morcegos plan

Figure 3 – Gruta dos Morcegos extended profile

Figure 4 – Gruta dos Morcegos equipment sheet

Gruta dos Morcegos plan download (pdf)

Gruta dos Morcegos extended profile download (pdf)

Gruta dos Morcegos equipment sheet download (pdf)

 

Cave structural control

  Structural control is unclear. The cave is crossed by several fractures, mainly E-W/Vertical. These fractures don’t affect much the cave development, except for the entrance room and terminal section of the cave. Some control associated with the attitude of the layers (N40W/20SE) is not to be excluded, although it is not evident.

Speleogenesis

 The cave was formed in the phreatic zone, according to Bögli’s, (1980), definition, as evidenced by the rounded section, erosion waves and cupolas, existing in the cave. The cave is currently a fossilized section of an ancient groundwater collector. With the relative descent of the base level, the cave moved to the inactive vadose zone. The lowering of the base level should be associated with tectonic movement, given the high elevation at which the cave gallery develops, 433 to 403m, and the proximity to Alvados-Minde’s fault, which according to Cabral and Ribeiro, 1988 is an active fault.

   Paleo circulation 

The observed erosion waves have a length that varied between 0.5 and 0.4 m, with the direction of circulation rough towards the entrance to the cave.

Conclusions

 Gruta dos Morcegos is a cave developed in a tectonically lifted block, between the Minde and Alvados’s polges, in limestones from Calcários Mícritos da Serra de Aire formation (Middle Jurassic). The cave has a total development of 207m, and a depth of 33m. The cave’s structural control is unclear. It is crossed by several fractures, mainly of E-W/Vertical attitude, which for the most part don’t affect its development. Some control associated with the layers attitude(N40W/20SE) can’t be excluded.

 The cave was formed in the phreatic zone with groundwater circulating towards the cave’s entrance).  Due to a relative descent of the base level, the cave passed to the inactive vadose zone. The cave was formed in the phreatic zone with groundwater circulating from north to south (towards the cave’s mouth). Due to a relative descent of the base level, the cave passed to the inactive vadose zone. The descent of the base level should be associated with tectonic movement, given the high elevation at which the cave gallery develops, 433 to 403m, and the proximity to Alvados-Minde’s fault.

Acknowledgement

 We thank to everyone who joined the fieldwork, cave exploration and topographic survey: Buno Pais, Florbela Silva and José Ribeiro who led the topography team and did the topography final artwork. In the geological survey we regard Filipe Castro, Alda Reis and Teresa Cardoso.

 Bibliographic references

Bögli, A. (1980), Karst Hydrology and Physical Speleology, Springer-Verlag, Berlin Heildelberg New York  

Crispim, J.A (1995) – Dinâmica Cársica e Implicações Ambientais nas Depressões de Alvados e Minde. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para a obtenção do grau de Doutor em Geologia, especialidade de Geologia do Ambiente. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Departamento de Geologia.

Manupella, G., Telles Antunes, M., Costa Almeida, C.A., Azerêdo, A.C., Barbosa, B., Cardoso, J.L., Crispim, J.A., Duarte, L.V., Henriques, M.H., Martins, L.T., Ramalho, M.M.; Santos, V.F.; Terrinha. P.; (2000). Carta Geológica de Portugal – Vila Nova de Ourém, Folha 27-A, à escala 1:50000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

 Martins, Alfredo Fernandes, 1949.  – Maciço calcário estremenho: Contribuição para um estudo de geografia física. Coimbra,

 J. Cabral e A. Ribeiro, 1988, Carta Neotectónica de Portugal Continental, na escala de 1:1 000 000Categoria: Cartografia, Cartografia em Papel, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

Alguns apontamentos de geologia sobre a Lapa da Ovelha (Some geological notes regarding Lapa da Ovelha (Sheep’s cave))

•6 / 09 / 2021 • Deixe um Comentário

Rodrigues, Paulo:1,2,3

1)- Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua General Pereira de Eça, n.º 30, Alcanena
2380-075 ALCANENA
(2)- Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares
(3)- Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia, Estrada Calhariz de Benfica, 187, 1500-124 Lisboa   

Email de correspondência: paulor2005@yahoo.com

Resumo: A Lapa da Ovelha é uma gruta que se desenvolve, na Costa de Minde, em calcários da formação de Barranco do Zambujal (Jurássico Médio). O desenvolvimento da gruta é provavelmente controlado pela atitude das camadas (atitude N40-60W/40SW).  A gruta formou-se na zona freática com a água a circular de norte para sul (em direção à boca da gruta) que com a descida relativa do nível de base, passou para a zona vadosa inativa.  A descida do nível de base estará associado à movimentação tectónica.

Abstract: Lapa da Ovelha is a cave developed, on a highly slope (Costa de Minde), in limestones of Barranco do Zambujal formation (Middle Jurassic). The cave’s development is likely controlled by the layer’s attitude (N40-60W/40SW). The cave was formed in the phreatic zone, groundwater circulating from north to south (towards the cave entrance).Thanks to the relative descent of the base level, the cave passed to the inactive vadose zone. The base level descent is associated with tectonic movement.

Palavras-chave: Lapa da Ovelha, Polje, Minde, Gruta freática, Espeleogénese, Tectónica.

Keywords: Lapa da Ovelha, Polje, Minde, Phratic cave, Sepeleogenesis, Tectonic

English version below

Introdução

Durante alguns anos este levantamento geológico esteve “na gaveta” e chegou agora a hora de ver a luz do dia. O levantamento topográfico foi realizado pelo Grupo de Espeleologia e Montanhismo, em 2016, com os trabalhos de campo liderados por José Ribeiro.

Localização

A Lapa da Ovelha situa-se na freguesia de Minde, concelho de Alcanena, distrito de Santarém, na unidade hidrogeomorfológica do planalto de Santo António no Maciço Calcário Estremenho. A gruta desenvolve-se na Costa de Minde, a meia encosta, à cota 430m, com uma boca, que apesar de grande, consegue passar despercebida entre o elevado declive e a vegetação existente.

Figura 1 – Aproximação à gruta. Note-se, ao fundo, o polje de Minde ainda inundado. Foto: Samuel Lopes (WIND).

Figura 2 – Entrada da Lapa da Ovelha.  Foto: Samuel Lopes (WIND).

Antecedentes

Esta deverá ser uma das grutas, conhecida há mais tempo, na área, como sugere o nome, o afeiçoamento da entrada, esta cavidade foi usada ou será ainda usada como abrigo para rebanhos de ovelhas e ou cabras. Um croqui do perfil da cavidade foi inclusive publicado por Fernandes Martins,1949.

Enquadramento Estratigráfico e estrutural

A gruta desenvolve-se segundo a Folha 27-A- Vila Nova de Ourém da Carta geológica de Portugal à escala 1/50000 integralmente na formação de Barranco do Zambujal, datada do Aaleniano inferior a Bajociano inferior (Jurássico Médio). A formação segundo Manuppella et al, 2000 é composta por calcários com algum acarreio do tipo quartzoso e argiloso, com os carbonatos a aumentarem da base para o topo da formação. Integra segundo Crispim, 1995, a Formação cársica do Jurássico Médio. Trata-se de uma formação com potencial de casificação elevado.

Do ponto de vista estrutural a Costa de Minde é um espelho da Falha de Alvados-Minde que apresenta no polje de Minde direção NW-SE.

A figura 3 apresenta a localização da gruta num extrato da Folha 27-A – Vila Nova de Ourém da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000.

Figura 3 – Extrato da Folha 27-A – Vila Nova de Ourém da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000.

Espeleometria e descrição da gruta

A gruta apresenta um desenvolvimento total de 153m, com um desnível total, de 31metros. A cavidade é composta por uma galeria de diâmetro de ordem de grandeza métrica, que dá acesso na sua zona terminal a um poço com uma profundidade de 20 metros. A galeria tem um padrão meandriforme, com a gruta a desenvolver-se grosseiramente para sul, desviando-se para este e oeste. A gruta termina num caos de blocos, com a continuação obstruída por um abatimento. As figuras 4, 5 e 6 apresentam a planta, perfil estendido e ficha de equipagem da gruta respetivamente.

Figura 4 – Planta da Lapa da Ovelha

Figura 5 – Perfil estendido da Lapa da Ovelha

Figura 6 – Ficha de equipagem da Lapa da Ovelha

Controlo estrutural 

A cavidade não apresenta controlo evidente por fraturas. O controlo estrutural está provavelmente associado à atitude das camadas (as atitudes das camadas, medidas no interior da gruta, foi de aproximadamente N40-60W/40SW). A galeria segue alternadamente entre a direção e a inclinação das camadas.

Génese

Pomos duas hipóteses em relação à génese da gruta;

i)                A gruta formou-se na zona freática, de acordo com a definição de Bögli, (1980), como evidenciado pela secção arredondada e vagas de erosão existentes na gruta. O controlo estrutural pelas camadas é também típico de grutas de origem freática. A gruta é atualmente um troço fossilizado de um antigo coletor, que com a descida relativa do nível de base, passou para a zona vadosa inativa.  A descida do nível de base estará associado à movimentação tectónica, dada a cota elevada a que a galeria da  gruta se desenvolve, 430 a 405m e à proximidade à Falha de Alvados-Minde, que de acordo com Cabral e Ribeiro, 1988 é uma falha ativa.

ii)              A gruta desenvolveu-se num nível de água suspenso. O nível de água poderá ter ficado suspenso devido à presença de uma camada ou camadas margosas (menos permeáveis). Uma situação semelhante à da gruta da Cova da Velha, que se desenvolve na mesma formação, embora a cotas inferiores. Só que ao contrário do que se passa na Cova da Velho a camada margosa terá sido erodida, pela água e sedimentos que circulavam na gruta, permitindo a infiltração da água em profundidade na formação de Chão das Pias.

Figura 7. Aspeto da secção da galeria. Note-se o aspeto arredondado da parte superior da secção, indicador de origem freática, e a secção em forma de buraco de fechadura. Foto: Samuel Lopes (WIND).

Paleocirculação

As vagas de erosão observadas têm um comprimento que variou entre 0,7 e 1,5m, com o sentido de circulação grosseiro de sul para norte, ou seja em direção à entrada da gruta

Conclusões

 A Lapa da Ovelha é uma gruta que se desenvolve, a meia encosta da Costa de Minde, em calcários da formação de Barranco do Zambujal (Jurássico Médio). A gruta tem um padrão meandriforme, sendo composta por uma galeria que na sua zona terminal apresenta um poço. A cavidade tem um desenvolvimento total de 153m, e um desnível de 31metros. O desenvolvimento da gruta é provavelmente controlado pela atitude das camadas (atitude N40-60W/40SW).

 A gruta formou-se na zona freática com a água a circular de norte para sul (em direção à boca da gruta) que com a descida relativa do nível de base, passou para a zona vadosa inativa.  A descida do nível de base estará associado à movimentação tectónica, dada a cota elevada a que a galeria da  gruta se desenvolve, 430 a 405m e a proximidade à Falha de Alvados-Minde.

Agradecimentos

Agradecemos a todo os que participaram nos trabalhos de campo, na exploração  e levantamento topográfico: Buno Pais, Florbela Silva, Helena Mafalda, Marco Matias, Samuel Lopes e em particular a José Ribeiro que liderou a equipa de topografia e fez a arte final da topografia. No levantamento geológico a Filipe Castro, Alda Reis e Teresa Cardoso.

Referências Bibliográficas

Crispim, J.A (1995) – Dinâmica Cársica e Implicações Ambientais nas Depressões de Alvados e Minde. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para a obtenção do grau de Doutor em Geologia, especialidade de Geologia do Ambiente. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Departamento de Geologia.

Bögli, A. (1980), Karst Hydrology and Physical Speleology, Springer-Verlag, Berlin Heildelberg New York

Manupella, G., Telles Antunes, M., Costa Almeida, C.A., Azerêdo, A.C., Barbosa, B., Cardoso, J.L., Crispim, J.A., Duarte, L.V., Henriques, M.H., Martins, L.T., Ramalho, M.M.; Santos, V.F.; Terrinha. P.; (2000). Carta Geológica de Portugal – Vila Nova de Ourém, Folha 27-A, à escala 1:50000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

 Martins, Alfredo Fernandes, 1949.  – Maciço calcário estremenho: Contribuição para um estudo de geografia física. Coimbra,

 J. Cabral e A. Ribeiro, 1988, Carta Neotectónica de Portugal Continental, na escala de 1:1 000 000Categoria: Cartografia, Cartografia em Papel, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

English version

Introduction

For years this geological survey has been “in the work desk” and now it’s time to see the day light. The exploration and topographic survey were carried by Grupo de Espeleologia e Montanhismo, in 2016.  Topographic survey led by José Ribeiro.

 Location

 Lapa da Ovelha is in Minde, municipality of Alcanena, district of Santarém, Portugal in the hydrogeomorphological unit of Santo António plateau, a part of Maciço Calcário Estremenho (Estremadura Limestome Massif). The cave is located on the Costa de Minde, halfway up the slope, at an elevation of 430m, with an entrance that, despite being large, manages to pass unnoticed between the steep slope and the vegetation.

 

Figure 1 – Approaching the cave. Note, in the background, Minde’s polje still flooded. Photo: Samuel Lopes (WIND).

 

Figure 2 – Lapa da Ovelha entrance. Photo: Samuel Lopes (WIND).

 Background

 The cave should be known for a long time, as suggested by the name (Sheep’s cave), and the humanized entrance- This cavity was used or is still used as a shelter for herds of sheep and goats. A sketch of the cavity profile was even published by Fernandes Martins, 1949.

 Stratigraphic and structural tectonic

 The cave develops, according to Sheet 27-A-Vila Nova de Ourém of the Geological Chart of Portugal at a scale 1/50000, entirely in the formation of Barranco do Zambujal, dating from Lower Aalenian to Lower Bajociano (Middle Jurassic). The formation according to Manuppella et al, 2000 is composed of limestones with some quartzose and clayey component, with carbonates increasing from the base to the top of the formation. It integrates according to Crispim, 1995, the Karst Formation of the Middle Jurassic. A formation with high karstic potential.

From a structural point of view, Minde’s Coast is a fault mirror of Alvados-Minde Fault, that in the Minde’s polje has a NW-SE direction.

Figure 3 shows the location of the cave in an extract from Folha 27-A – Vila Nova de Ourém of the Geological Chart of Portugal at scale 1/50000.

 Figure 3 – Extract from Sheet 27-A – Vila Nova de Ourém of the Geological Chart of Portugal at scale 1/50000.

Speleometry and cave description

The cave has a total development of 153m, with a total depth of 31m. The cave is composed by a gallery with a diameter of metric magnitude, which gives access in its terminal area to a pith, 20 meters deep. The gallery has a meandering pattern, developing roughly to south, deviating to the east and west. The cave ends in a chaos of blocks, with the continuation obstructed by a boulder chocke. Figures 4, 5 and 6 show the plan, extended profile and equipment sheet of the cave respectively.

Figure 4 –Lapa da Ovelha plan

Figure 5 –Lapa da Ovelha extended profile

Figure 6 –Lapa da Ovelha equipment sheet

 

Cave structural control

  The cavity has no evident control due to fractures. Structural control is probably associated with the layers attitude (roughly N40-60W/40SW). The gallery direction alternates between the direction and slope of the layers.

Speleogenesis

Two hipothesis are possible: 

i) The cave was formed in the phreatic zone, according to Bögli’s, (1980), definition, as evidenced by the cave rounded section and erosion waves found inside the cave. Structural control by layers is also typical of phreatic origin caves. The cave is currently a fossilized section of an ancient groundwater collector. With the relative descent of the base level, it moved to the inactive vadose zone. The lowering of the base level should be associated with tectonic movement, given the high elevation at which the cave gallery develops, 430 to 405m, and the proximity to Alvados-Minde’s fault, which according to Cabral and Ribeiro, 1988 is an active fault.

ii) The cave developed on a perched water level. The perched water level was supported by a malrly layer (less permeable). A situation similar to Cova da Velha cave, which develops in the same formation, altoughn at a lower height. Unlike what happened in Cova da Velha, the marly layer was eroded by flowing water and sediments, allowing the infiltration of water in depth, into a deeper level.

Figure 7. Vision of the gallery’s section. Note the rounded appearance of the upper part of the section, an indicator of phreatic origin, and the keyhole-shaped section. Photo: Samuel Lopes (WIND).

  Paleo circulation

 The observed erosion waves have a length that varied between 0.7 and 1.5 m, with the direction of former groundwater circulation roughly from south to north, that is, towards the cave entrance.

Conclusions

  Lapa da Ovelha is a cave located, halfway down a highly slope, Costa de Minde, in limestone from the Barranco do Zambujal formation (Middle Jurassic). The cave has a meandering pattern, being composed of a gallery with a pit in the terminal area. The cave has a total development of 153m, and a total depth of 31m. The cave’s development is likely controlled by the layers attitude (roughly N40-60W/40SW).

  The cave was formed in the phreatic zone with groundwater circulating from north to south (towards the mouth of the cave). Due to a relative descent of the base level, the cave passed to the inactive vadose zone. The descent of the base level should be associated with tectonic movement, given the high elevation at which the cave gallery develops, 430 to 405m, and the proximity to the Alvados-Minde fault.

Acknowledgement

 We thank to everyone who joined the fieldwork, cave exploration and topographic survey: Buno Pais, Florbela Silva, Helena Mafalda, Marco Matias, Samuel Lopes and in particular José Ribeiro who led the topography team and did the topography final artwork. In the geological survey we regard Filipe Castro, Alda Reis and Teresa Cardoso. 

Bibliographic references

Crispim, J.A (1995) – Dinâmica Cársica e Implicações Ambientais nas Depressões de Alvados e Minde. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para a obtenção do grau de Doutor em Geologia, especialidade de Geologia do Ambiente. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Departamento de Geologia.

Bögli, A. (1980), Karst Hydrology and Physical Speleology, Springer-Verlag, Berlin Heildelberg New York

Manupella, G., Telles Antunes, M., Costa Almeida, C.A., Azerêdo, A.C., Barbosa, B., Cardoso, J.L., Crispim, J.A., Duarte, L.V., Henriques, M.H., Martins, L.T., Ramalho, M.M.; Santos, V.F.; Terrinha. P.; (2000). Carta Geológica de Portugal – Vila Nova de Ourém, Folha 27-A, à escala 1:50000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

 Martins, Alfredo Fernandes, 1949.  – Maciço calcário estremenho: Contribuição para um estudo de geografia física. Coimbra,

 J. Cabral e A. Ribeiro, 1988, Carta Neotectónica de Portugal Continental, na escala de 1:1 000 000Categoria: Cartografia, Cartografia em Papel, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.

O novo Programa Especial do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PEPNSAC) e Regulamento de Gestão

•20 / 08 / 2021 • Deixe um Comentário

O novo PEPNSAC e o a proposta de Regulamento de Gestão encontram-se em consulta pública até ao próximo dia 31 de Agosto. Esta proposta de Regulamento de Gestão vem condicionar ainda mais a atividade espeleológica no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Não deixa de ser irónico que um Parque Natural que deve a sua existência ao património espeleológico, descoberto, divulgado e protegido por espeleólogos, imponha para os mesmos regras cada vez mais apertadas.

O novo regulamento, aumenta em muito o número de grutas classificadas como geossítios, em alguns casos passando o geossítio a incluir não cavidades individuais, mas áreas inteiras. De forma geral o grosso das áreas e grutas do PNSAC onde os espeleólogos trabalham ficar classificado como geossítio. Isto é em si positivo, porém as condicionantes de acesso, nomeadamente obrigação de pedidos de autorização com 10 dias úteis de antecedência, emissão de relatório após atividade e em certos casos pedido de parecer a outras entidades que não o ICNF, dificilmente poderão ser cumpridas pela comunidade espeleológica. O modo como este condicionamento visa proteger as cavidades é também omisso na documentação disponível.

Corre-se o risco da espeleologia no PNSAC passar à clandestinidade ou ter de ser abandonada, o que decerto ninguém deseja.

Ficam de seguida os links para consulta da documentação do PEPNSAC, em particular recomendamos a leitura dos artigos 40º, 42º, 50º, 51º, 52º, 53º e 55º da proposta de Regulamento de Gestão.

https://www.icnf.pt/oquefazemos/consultasconcursos

Procurar:CONSULTA PÚBLICA: Programa Especial do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PEPNSAC) e Regulamento de Gestão 

Link para proposta de Regulamento de Gestão

https://www.icnf.pt/api/file/doc/913d29395d0ddbab

Link para participação na consulta pública

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSelneBJfnzjMf3KWf-ztkz5LZZMGSQZDnxKYC_KCFI1DVqcXQ/viewform

Solicitamos a todos os que se interessam pelo carso e espeleologia que exprimam a sua opinião no link acima durante a duração da consulta pública.

Saudações espeleológicas

Algares do cabeço dos Alecrineiros XXVII

•10 / 08 / 2021 • Deixe um Comentário

Ribeiro, José: 1,2; Lopes, Samuel: 1,4;Rodrigues, Paulo: 1,2,3

1)- – Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2560-218, Amadora, Portugal 

(2)- Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 

(3)- Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia 

(4) Wind -CAM- Centro de Actividades de Montanha, Rua Eduardo Mondlane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

Introdução

Aos poucos vamos regressando e dando continuidade ao nosso projeto, não tem sido fácil lutar contra esta pandemia, mas assim tem de ser e não nos podemos deixar vencer.

A natureza está a recuperar do ultimo grande incêndio aqui nos Alecrineiros, dando um toque muito bonito a toda a zona. Sempre que podemos fazemos prospeção e fruto desse trabalho apresentamos os trabalhos efetuados nos algares e promessas de algares: Algar do Par Desconfinado, Buraco da Oliveira, Algar da Cobra, Buraco da Crista, Algar do Já se Vê e Algar das Gajas de Sicó.

Figura 1 – Localização dos algares, tendo como referencia o estradão assinalado com seta a vermelho, que provem do cruzamento conhecido, na zona, como “Os 4 caminhos”.

Adverte-se também e mais uma vez que para sua protecção e da própria cavidade o espeleólogo tem de ter obrigatoriamente formação!!!

Algar do Par Desconfinado

Tínhamos terminado o trabalho no algar do Jalles, sobrou um pouco de tempo e fomos verificar as coordenadas de alguns algares que encontramos numa prospeção feita anteriormente e chamou-nos a atenção uma pequena depressão rodeada de carrasco queimado, dando a ideia que antes do incêndio seria muito difícil de ser detetado. O acesso é difícil, mas ali estava ele a nossa espera.

Figura 2,3 – Zona e entrada do algar do Par Desconfinado (Fotos de Filipe Castro – GEM).

Descrição:

Num lapiás com alguma elevação uma pequena depressão e abre-se o algar à superfície. Tem aproximadamente 1,5m X 1,5m, a SSO, parede lisa já na restante área, tem que se ter alguma cautela pois é um pouco instável.

Segue-se poço de 36m, após alguns metros alarga e bastante no sentido NO-SE, onde se percebe uma clara descontinuidade, poço que tem paredes lisas mas que vai sendo preenchido com formas de reconstrução parietais na sua descida. A base não sendo uniforme tem cerca de 2m, na sua zona mais larga e quase 9m, de comprimento, inclinação é no sentido SE, sendo de muito bloco, cascalheira e alguma argila. Verifica-se pequena abertura no sentido NE, completamente fechada com muitas formas de reconstrução. Verificaram-se algumas ossadas de algum cabrito que ali caiu.

Apesar de a base ser fria não se verificou qualquer possibilidade de continuação, pois deve estar muito entulhada, terminando aqui o nosso trabalho de campo.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira NW – SE, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta apresenta caneluras de dissolução. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, a, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Tínhamos tanta esperança neste algar e chegamos lá abaixo como em tantos outros e olhem “morremos na praia”, bom mas valeu bem a pena pois o poço é brutal e já esta cadastrado e aqui por nós apresentado.

Figura 4,5 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Par Desconfinado.

Planta do Algar do Par Desconfinado em pdf para download

Perfil desdobrado do Algar do Par Desconfinado em pdf para download

Ficha de equipagem do Algar do Par Desconfinado em pdf para download

Fotos do Algar do algar do Par Desconfinado (Fotos: José Ventura – GEM).

Buraco da Oliveira

Este fica mesmo perto da estrada, dentro de um chouso, quando o identificamos estava carregado de salamandras, tem cerca de 3m, de profundidade e fica aqui o registo. Sendo as coordenadas (WGS 84)  39.50854ºN  8.81427ºW.

Figura 6,7 – Foto da envolvente e da entrada do Buraco da Oliveira (Fotos de Filipe Castro – GEM).

Algar da Cobra

Demos -lhe este nome pois quando o avistamos vimos uma cobra que por ali passava e que depressa se escondeu sem nunca mais a vermos, também não estávamos muito interessados…..

Figura 8 – Foto de entrada do Algar da Cobra (Foto de José Ventura – GEM).

Descrição:

Numa fenda (se assim lhe podemos chamar), bem visível à superfície, encontra-se a boca do algar. Tem aproximadamente de 0,5m X 0,5m, encontram-se ali uns calhaus bem entalados. Segue-se poço de 21 m, alarga logo a seguir à entrada, mas voltando a estreitar um pouco sensivelmente a meio da descida. Nota-se no sentido SO, pequenas fendas com ocos durante a descida.

A base do poço é pequena, havendo espaço apenas para um espeleólogo, é de cascalho encontrando-se um bom bloco. No sentido SO, pequena fenda onde se verificou trabalho de desobstrução (não sabemos por quem).

Segue-se poço de 4m, inicialmente muito estreito mas alargando de seguida. A base é de cascalho e argila, estamos numa pequena sala, com cerca de 2m X 2m de teto irregular e com pequena inclinação no sentido SO. No mesmo sentido pequena passagem já com formas de reconstrução e com inclinação no sentido contrario a progressão, terminando numa chaminé de 4m.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira NE – SW, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, a, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Na realidade este até deu mais do que aquilo que nós pensamos, verificamos que alguém efetuou um trabalho de desobstrução, também verificamos uns spits muito velhos na entrada, mas no Cadastro Nacional de Cavidades, nada…….

Figura 9,10 – Planta e perfil desdobrado do Algar da Cobra.

Planta do Algar da Cobra em pdf para download

Perfil desdobrado do Algar da Cobra em pdf para download

Ficha de equipagem do Algar da Cobra em pdf para download

Buraco da Crista

Por ali andávamos a “bater terreno”, uma fenda grande e ao lado este buraco com cerca de 3 m de profundidade, que indica que aqui por de baixo pode haver um oco, quem sabe….

Figura 11,12 – Foto da entrada e interior do Buraco da Crista (Fotos de Filipe Castro – GEM), sendo as coordenadas (WGS 84)  39.50695ºN  8.81293ºW.

Algar Já se Vê

Estava mesmo ali perto, alias toda aquela zona cheira a algares!!! Verificamos mais tarde que alguém por aqui tinha andado, não sabemos quem, olhem é mais um……

Figura 13,14 – Foto da entrada e zona envolvente do Algar Já se Vê (Fotos de Marco Matias – GEM).

Descrição:

Num belo campo de lapiás uma descontinuidade bem visível, uns blocos ali entalados e abre-se o algar à superfície, mesmo por de baixo dos blocos após um pequeno ressalto de m. A entrada tem cerca de 1m X 1m, sendo simpático, mas abrindo um pouco mais abaixo. Segue-se poço de 15 m, onde se percebe agora a descontinuidade que forma o algar, sendo esta no sentido ONO – ESE.

Nas paredes observam-se algumas formas de reconstrução mas já muito velhas, parecendo até que algumas se desfazem. A base do poço é composta por vários blocos e cascalheira tendo uma ligeira inclinação no sentido ESE. Ai na zona mais a ESE, verificamos duas fendas, uma por cima de outra que se prolongam alguns metros, mas sendo impossível sem desobstrução a progressão, ambas estão identificadas na topografia.

Já na zona mais a ONO, voltamos a encontrar duas fendas que se ligam e inclusive também se consegue aceder a esse pequeno oco por desobstrução efetuada, não sabemos por quem na parede a SO. Zona identificada na topografia, sendo muito estreita a progressão.

Verificamos também que este algar apesar de pequeno alberga muita vida como se pode observar nas fotografias.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira NW – SE, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, a, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Algar interessante, este foi explorado debaixo de alta trovoada e muita chuva, assusta bastante ver as faíscas a cair e nós ali carregados de metal, enfim….

Já esta mais um que fica no Cadastro e aqui por nós partilhado!!!!

Figura 15,16 – Planta e perfil desdobrado do Algar Já se Vê.

Planta do Algar Já se Vê em pdf para download

Perfil desdobrado do Algar Já se Vê em pdf para download

Ficha de equipagem do Algar Já se Vê em pdf para download

Fotos do Algar do algar Já se Vê (Fotos: Marco Matias – GEM).

Algar das Gajas de Sicó

Bom muita historia tem este algar, quando o encontramos, estávamos a caminho do algar Já se Vê. É bem visível no percurso pedestre que ali passa e com aquele varão queimado, ainda mais. Demos-lhe logo o nome, mais tarde verificámos que as coordenadas são as do algar da Moita. É o nome que está no Cadastro Nacional de Cavidades, mas a historia não fica por aqui.

Existe uma publicação no blog do N.A.L.G.A., que fala da sua descoberta numa atividade do GPS – Grupo Protecção Sicó e AESDA – Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente, em 2006, tendo a descoberta sido feita por Cláudia Neves e Rita Lemos (ambas sócias do GPS).

Podem ver essa publicação seguindo o link:

Figura 17,18 – Foto da entrada e zona envolvente do Algar das Gajas de Sicó (Fotos de Teresa Cardoso – GEM).

Descrição:

Junto a um percurso pedestre, uma fenda no chão e abre-se o algar à superfície, a fenda se assim lhe podemos chamar, tem a direção O-E, tem cerca de 1m X 0,5m, desce 2m e estreita (mesmo já tendo sido alargado um pouco). Abre logo de seguida, observa-se de imediato pequeno patamar no sentido NO, com chaminé que quase liga à superfície. O poço tem 35m, com um pequeno bloco entalado que serve de patamar, sensivelmente a meio, tem formas de reconstrução e quase a chegar à base tem pequeno tramo no sentido ESE. Este pequeno tramo segue no sentido ENE, é muito bonito e termina num pequeno poço com formas de reconstrução. Mais abaixo a base é de blocos, cascalheira e argila.

Na base no sentido ESE, duas aberturas no chão que dão acesso a rampa de 4m, e seguida esta zona divide-se em 3 pequenos tramos. No sentido N, zona onde se anda bem com desnível no mesmo sentido, alguns blocos, cascalheira, poucas formas de reconstrução terminando uns metros à frente. No sentido ESE, desnível no mesmo sentido, alguns blocos, cascalheira e algumas formas de reconstrução, terminando alguns metros a frente. Por fim no sentido ONO, pequena passagem com muita argila e cascalheira no seu inicio, mais a frente abre um pouco, alguns blocos, segue em pequenas rampas com argila e cascalheira e termina numa pequena fenda de cascalheira e argila identificada na topografia.

De novo na base do poço de 35m e agora no sentido NO, passagem por debaixo de grande bloco que divide a passagem, zona de muitas formas de reconstrução e muito bela, com alguma argila e blocos subindo no sentido NO. A frente abre-se uma salão de boas dimensões e de grande beleza. O salão desenvolve-se inicialmente no sentido NO, tendo logo ali um poço de 4m de boa largura que liga a zona inferior. De seguida desenvolvesse também no sentido SSO, toda a zona é coberta de formas de reconstrução e de grande beleza, o teto é irregular tal e qual o chão com alguns blocos de boas dimensões, zonas de patamares e muita calcite. Existem vários pontos de comunicação com a zona inferior, sendo a maior na zona mais a SSO. Ai temos acesso a um poço de 5m que foi o acesso ao nível inferior, percebemos de imediato que é uma zona de caus de blocos que liga em vários pontos ao salão, tudo é muito irregular, com muito bloco, cascalheira e argila com alguns pequenos poços que afunilam e fecham com cascalheira e argilas. Não foi verificada nenhuma possível passagem, terminando ai a nossa exploração.

Geologia:

O poço de entrada é “um vadose shaft” de acordo com a definição de Baroñ, 2003, formado por infiltração de água a partir do epicarso ( a zona mais superficial, alterada e logo mais permeável do maciço cársico), tratando-se basicamente de fracturas alargadas pela corrosão da água de infiltração. O  poço é estruturalmente controlado por fracturas de atitude N60W/vertical e N40W/vertical. A gruta encontra-se no estado velho segundo a classificação de Bögli,1980. A génese da sala é menos clara, o caos de blocos resultante do abatimento do tecto, segundo as superfícies de estratificação horizontal (que funcionam como superfíces de fraqueza), alteraram o aspecto original da sala. Pode-se considerar a hipótese de se tratar de uma zona de confluência de vários “vadose shats” entretanto abatidos, ou mesmo de um troço de um antigo colector, apesar de não terem sido encontrados vestígios de origem freática da sala. A sala apresenta pelo menos em algumas zonas controlo estrutural pelas mesmas famílias de fracturas do poço de entrada, a saber N60W/vertical e N40W/vertical, a direcção de desenvolvimento da sala, NW-SE, sugere que estas fracturas poderão até desempenhar um papel predominante no controlo da sala.

A gruta desenvolve-se segundo a Folha 27- A da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000 na formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire datados do Batoniano (Jurássico Médio).

A atitude das camadas é próxima da horizontal.

Presente:

Foi graças ao conhecimento de todos os espeleólogos que partilharam o seu conhecimento sobre este algar que nos fez ali chegar. Melhoramos um pouco a topografia feita na altura com outros “instrumentos” e foi um prazer enorme verificar uma beleza única e uma sensação que só quem aqui vem a compreende……

Figura 19,20 – Planta e perfil desdobrado do Algar das Gajas de Sicó.

Planta do Algar das Gajas de Sicó em pdf para download

Perfil desdobrado do Algar das Gajas de Sicó em pdf para download

Ficha de equipagem do Algar das Gajas de Sicó em pdf para download

Fotos do Algar do algar das Gajas de Sicó (Fotos: Paulo Lopes e Teresa Cardoso – GEM).

Neste final de publicação quero agradecer a persistência de dois camaradas, o Rui Pina e o Pedro Fazenda, que conseguiram ao longo destes dois últimos anos, apesar das restrições que a pandemia tem trazido, abrirem finalmente a passagem no Algar de Boca Larga V, sim esse onde iniciamos os trabalhos em 2018 e se percebia aquela grande corrente de ar aos -60 m. Aguardem o que para ai vem…….

Abraço e até a próxima.

Texto: José Ribeiro    Geologia: Paulo Rodrigues.

•4 / 06 / 2021 • Deixe um Comentário

Inscreva-se e venha ajudar.

Revista Meandro número 4

•28 / 04 / 2021 • Deixe um Comentário

O Grupo de Espeleogeologia e Montanhismo acaba de lançar o número 4 da sua revista Meandro. A revista apresenta os trabalhos e atividades realizadas em 2018. Inclui topografias de mais uma série de grutas portuguesas. Aproveitem que a publicação de topografias fora do GEM e NALGA é coisa rara.

A revista apenas está disponível, por enquanto, em formato electrónico através do link abaixo.

Contenda – o regresso aos banhos

•28 / 02 / 2021 • Deixe um Comentário

Após obtenção de autorização do ICNF, voltou-se às actividades na gruta da Contenda. Desta feita aos espeleomergulhos. A última actividade realizada na gruta, no âmbito do Projeto Contenda, tinha sido em 2015, na galeria SPE 66. O último espeleomergulho datava já de 2013, realizado na galeria do Rio, por António Mendes (NEUA).

Após o interregno de alguns anos, voltou a haver vontade, uma nova equipa de mergulhadores, uma autorização do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas) e a comunidade espeleológica voltou a a dizer presente neste esforço.

A equipa de mergulhadores foi composta por José Mário Ventura e Joana Capitani (ambos do GEM) com a organização das atividades a cabo de Pedro Robalo. Como habitual participaram espeleólogos sócios de várias associações a saber, por ordem alfabética: ARCM, AESDA, GEONAUTA, GEM, GEMA, NAMMI, NEL e vários não afiliados.

A autorização do ICNF foi concedida ao Grupo de Espeleologia e Montanhismo (GEM) que foi a entidade organizadora das actividades doravante descritas.

Os objectivos da atividade deste ano foram dar a conhecer a gruta da Contenda a um novo grupo de espeleólogos e realizar um novo mergulho na galeria do Rio. Sobre os mergulhos anteriores aconselhamos a leitura dos posts que podem ser acedidos pelos links: https://nalga.wordpress.com/2013/10/02/contenda-2013/ e https://nalga.wordpress.com/2011/09/04/gruta-da-contenda-2011-a-exploracao-continua/

O objectivo do mergulho era permitir o reconhecimento da parte imersa da galeria do rio já mergulhada anteriormente para posteriormente lançar um novo esforço de exploração na parte imersa da gruta.

Segue-se um “diário das actividades”.

Data: 12/08/2020

Trabalhos realizados: Reconhecimento da gruta. Verificação do nível da água, verificação de ancoragens e substituição de cordas. Teste de invólucro de protecção das garrafas de mergulho. As cordas que se encontravam na gruta foram substituídas por novas, por já não apresentarem condições de segurança. Verificou-se que o nível de água ainda estava quase no topo do poço que faz o acesso à galeria do Rio.

Apesar do nível da água ainda estar alto, dado o adiantado do Verão e questões de agenda, optou-se por começar os preparativos para o mergulho na galeria do Rio.

Data: 15/08/2020

Trabalhos realizados: Transporte de equipamento de mergulho até à galeria SPE 66. Verificação do nível de água. Fotografia e filmagem da gruta e transporte do equipamento. O nível de água encontrava-se 2,5m abaixo da 1º amarração do poço de acesso à galeria do Rio. O nível da água ainda estava muito alto para permitir a realização do mergulho. Foi um dia de grande esforço, mas quase todo o equipamento de mergulho ficou em posição.

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é img-20200816-wa0004.jpg
Algum do equipamento transportado

Equipa em progressão

Data: 23/08/2020

Trabalhos realizados: Devido às chuvas dos dias anteriores foi necessário entrar para verificar os níveis de água nos sifões 1 e S2. O sifão S1 estava com água mas transitável, foi realizado bombeamento por gravidade e o sifão ficou a drenar para melhorar o acesso. O sifão S2 estava surpreendentemente seco!

Data: 26/08/2020

Trabalhos realizados: Verificação do nível de água. Avaliação do acesso à galeria do Rio por um poço alternativo, que é mais largo.O nível de água encontrava-se 4,9m abaixo da 1º amarração do poço de acesso à galeria do Rio. Contudo o acesso pelo poço alternativo, embora com um nível de água elevado para a época mostrou-se viável. Este poço dá acesso a um afluente que se une à galeria do Rio umas dezenas de metros depois. O nível da água demorava a baixar, num ano usual já se teria acesso franco à zona do mergulho.

Data: 28/08/2020

Trabalhos realizados:: Realização do mergulho na galeria do Rio pelos mergulhadores José Mário Ventura e Joana Capitani e remoção parcial do equipamento de mergulho.

O nível de água encontrava-se 5,3m abaixo da 1º amarração do poço de acesso à galeria do Rio. Apesar do nível da água na gruta, historicamente elevado pelos registos existentes, por questões logísticas o mergulho não podia ser mais adiado.

O mergulho foi realizado com total segurança, seguindo todos os protocolos e com todos os equipamentos necessários. O acesso à galeria do rio foi realizado pelo poço alternativo, acima referido, que dá acesso a uma galeria afluente da galeria do Rio. Não se conseguiu um ponto de acesso prático mas arranjou-se forma de montar os equipamentos e entrar na água. As condições iniciais estavam razoáveis (para o que era esperado), mas infelizmente à medida que se avançou em direcção à galeria do rio, a visibilidade piorava cada vez mais, ao ponto da progressão passar a ser feita pelo tacto. Por esta razão não foi possível a colecta de dados novos e suspeita-se que efectivamente não se tenha sido atingida a galeria do Rio. O mergulho foi realizado com técnica de montagem lateral das garrafas (sidemount) para facilitar o transporte até ao ponto de acesso, e também para permitir o deslocamento em passagens subaquáticas restritas, como é o caso do poço alternativo.

Os equipamentos de mergulho foram parcialmente removidos da gruta.

Alguns vídeos do mergulho da autoria de José Mário Ventura e Joana Capitani podem ser consultados nos links:


Data: 29/08/2020

Trabalhos realizados: Remoção do restante equipamento de mergulho da gruta.

Data: 12/09/2020

Trabalhos realizados: Reconhecimento de outras zonas da gruta. Verificação do nível de água. O nível de água encontrava-se 7,5m abaixo da 1º amarração do poço de acesso à galeria do Rioo. O acesso à galeria do Rio estava aberto e a equipa atingiu o Rio.

Equipa: Ana Barros (GEM), António Afonso (ARCM), António Inácio (Geonauta),Bruno Enes (GEM), Bruno Pais (AESDA ), Carlos Silva (NEL), Dora Sequeira (GEONAUTA), Elisão Roque (NEL),Filipe Castro (GEM), Joana Capitani (GEM), João Bastos (NEL) João Ferreira (NEL), José Lopes (NEL), José Mário Ventura (GEM), José Ribeiro (GEM), Jorge Faustino (GEM), Luís Meira (AESDA), Márcia Cruz (GEM), Marco Matias (GEM), Maria Miguel (AESDA), Paulo Almeida (afiliação desconhecida), Isis Almeida (afiliação desconhecida), Paulo Lopes (GEM), Paulo Rocha (GEMA), Rui Pina (GEM), Pedro Robalo (GEM), Teresa Cardoso (GEM), Vítor Lourenço (GEM), Vitor Toucinho (GEM),Pedro Fazenda (NAMMI).

Algares do cabeço dos Alecrineiros XXIV

•14 / 01 / 2021 • Deixe um Comentário

Ribeiro, José: 1,2; Lopes, Samuel: 1,4;Rodrigues, Paulo: 1,2,3

1)- – Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2560-218, Amadora, Portugal 

(2)- Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 

(3)- Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia 

(4) Wind -CAM- Centro de Actividades de Montanha, Rua Eduardo Mondlane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

Introdução

Um terrível incêndio devastou  parte da Serra de Aire e Candeeiros no final do verão, deixando a zona dos Cabeços dos Alecrineiros maioritariamente queimada com um aspeto desolador, mas ao mesmo tempo expondo as bancadas de lapiás e novas possibilidades.

Muita prospeção fizemos e muito quilometro “palmilhamos” em zonas onde até então era impossível aceder e não se pense que foi fácil pois mesmo com a vegetação queimada o terreno é muito irregular e mesmo queimados os troncos dos carrascos dão muita luta. Valeu bem o esforço pois encontramos vários algares que partilhamos para o conhecimento geral.

A saber, Algar da Cratera, Algar da Cratera II, Algar da Pedra Torta, Algar Cabrum e Algar Éla.

Figura 1 – Localização dos algares, tendo como referencia o estradão que provem do cruzamento conhecido na zona como “Os 4 caminhos”, assinalado com seta vermelha.

Adverte-se também e mais uma vez que para sua protecção e da própria cavidade o espeleólogo tem de ter obrigatoriamente formação!!!

Algar da Cratera

Na primavera tínhamos andado bem perto deste algar, mas a vegetação era tão densa que não conseguimos sequer lá chegar perto, agora sim e valeu bem a pena!!!

Figura 2 – Foto da entrada do Algar da Cratera (Foto de Filipe Castro – GEM).

Descrição:

O algar abre-se à superfície com uma boa abertura, fazendo lembrar uma “Meia Bajanca”, algar bem conhecido da maioria dos espeleólogos e por nós aqui já publicado. Tem aproximadamente 12 m X 6 m, sendo a descontinuidade no sentido NO – SE. Segue-se poço com 27 m, este estreita conforme se desce, as suas paredes são lisas com alguns blocos bem presos e o musgo ali existente dá-lhe um aspeto muito bonito. A cerca de 16 m da entrada grande bloco ali “entalado”, com bom patamar. Dai acedemos à base do poço, sendo esta de calhaus de varias dimensões e argila. A sua inclinação é inicialmente acentuada, no sentido NNO – SSE, a meio da base vira no sentido ONO – ESE, sem inclinação. Olhando para cima temos um deslumbre de grande beleza, observando-se o teto com duas aberturas separadas pelo grande bloco e as paredes forradas de musgo e os vários tons da pedra, muito bom!!!

Sensivelmente a meio da base temos pequena abertura no sentido NE – SO, onde após um pequeno destrepe de 2 m, chegamos a zona mais funda do algar, que está preenchida de muito calhau, terminando ai a nossa exploração.

Detetámos muita vida dentro deste algar:  Morcegos, salamandras, vários insetos e efetuámos o resgate do musaranho solitário.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direcão grosseira NW – SE, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul- . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Que espetacular o nosso inicio de atividade, foi de facto uma supresa tão agradável, foi de encher a alma e estava ali tão perto e tão inacessível antes deste terrível incendio, enfim……

Bom esta feito, e olhem não posso de deixar de falar da grande e ferrugenta armadilha de animais de grande porte que para ali foi atirada, a espera que os séculos a consumam e claro do resgate do pequeno musaranho que assim que o libertamos ao Sol, depois de alimentado com um pedaço de maça ali ficou a saborear o calor que tanta falta lhe fazia.

Figura 3,4 – Planta e perfil desdobrado do Algar da Cratera.

Planta do Algar da Cratera em pdf para download

Algar da Cratera Planta

Perfil desdobrado do Algar da Cratera em pdf para download

Algar da Cratera Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar da Cratera em pdf para download

F.E.Algar da Cratera

Fotos do Algar do algar da Cratera (Fotos: António Afonso – ARCM).

Algar da Cratera II

Este estava mesmo ali ao lado, na mesma bancada de lapiás, toda a minha gente a trabalhar……

Figura 5 – Foto da entrada do Algar da Cratera II (Foto de António Afonso – ARCM).

Descrição:

A entrada do algar não é uniforme, mas na generalidade tem aproximadamente 6 m X1,5 m, no sentido ONO – ESE, a 4 m da superfície há um patamar que ocupa grande parte do poço, estando preenchido com blocos de vários tamanhos, no canto mais a ONO, prolonga-se o poço até a profundidade de 20 m, tendo algumas reentrâncias no seu desenvolvimento, mas sem continuidade verificada. A base tem inclinação no sentido ESE, de pouca dimensão com cerca de 2 m X 2 m, é de cascalheira e argila. Segue-se uma bifurcação, no sentido SO – NE, após pequeno ressalto temos pequeno oco em que se consegue estar de pé com fundo de cascalheira em que a parede a NE tem formas de reconstrução. Já no sentido ESE, o algar desenvolve -se um bom par de metros depois de ultrapassar ressalto de 2 m, zona mais estreita no sentido de progressão até se chegar a uma barreira de pedra de onde se deslumbra poço apertado de 6 m. A base é de argila e cascalheira, nesta pequena sala se assim lhe podemos chamar, verificamos um inicio de desobstrução no sentido NNE, depois de terminarmos a desobstrução nova pequena sala rica em formas de reconstrução, base de argila e algumas pedras da própria desobstrução, segue no sentido NNE, subindo e afunilando, terminando ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direcão grosseira NW-SE, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

E já está mais um, deu trabalho sim, verificamos pela desobstrução que já ali tinha estado alguém não sabemos quem, pois no Cadastro Nacional de Cavidades não havia qualquer referencia, mas agora já há!!!!

E fica aqui publicado e partilhado para o conhecimento de todos os espeleólogos, para que os trabalhos não se repitam.

Figura 6,7 – Planta e perfil desdobrado do Algar da Cratera II.

Planta do Algar da Cratera II em pdf para download

Algar da Cratera II Planta

Perfil desdobrado do Algar da Cratera II em pdf para download

Algar da Cratera II Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar da Cratera II em pdf para download

F.E.Algar da Cratera II

Fotos do Algar do algar da Cratera II (Fotos: António Afonso – ARCM, Rute Santos – GEM).

Algar da Pedra Torta

Mais um dia de prospeção e já numa zona mais a Oeste, uns quantos algares para se trabalhar, divisão de equipes e siga…..

Figura 8 – Foto da entrada do Algar da Pedra Torta (Foto de Pedro Fazenda – NAMMI/AESDA).

Descrição:

Este algar tem duas pequenas entradas, desobstruímos uma que nos pareceu melhor, retirámos a pedra torta e não se pense que foi fácil. Ficando a pequena entrada com cerca 0,5 m X 0,3 m, aproximadamente. Segue-se poço de 3 m, a base de muita argila e alguns calhaus, zona já mais larga com cerca de 1,5m. No sentido E, pequeno corredor que vira no sentido NNE, ai termina após rampa  de argila, afunilando até a outra entrada. Já no sentido S, observa-se uma fenda que nos leva a poço de 8 m. Por cima uma prateleira com vários blocos onde se vê passar a luz do Sol, em baixo a fenda apertada, que após ultrapassada e já no poço se verifica descontinuidade no Sentido SE.  A base tem inclinação no sentido NO, é de muito calhau, terminando ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas famílias de fraturas de direcão grosseira NW-SE e NE-SW, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Pequeno mas de trabalho, aquela base do poço final percebe-se que pode continuar mas é um trabalho de desobstrução lixado, pois não há espaço para colocar os calhaus, enfim mais um!!!

Figura 9,10 – Planta e perfil desdobrado do Algar da Pedra Torta.

Planta do Algar da Pedra Torta em pdf para download

Algar da Pedra Torta Planta

Perfil desdobrado do Algar da Pedra Torta  em pdf para download

Algar da Pedra Torta Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar da Pedra Torta em pdf para download

F.E.Algar da Pedra Torta

Fotos do Algar do algar da Pedra Torta (Fotos: Teresa Cardoso – GEM).

Algar do Cabrum

Este foi noutro dia, noutra aventura, apesar de pequeno deu que fazer, mesmo depois do fogo o silvado não ajuda nada!!!

Figura 11 – Foto da entrada do Algar Cabrum (Foto de Filipe Castro – GEM).

Descrição:

O algar tem uma entrada bastante “irregular”, com cerca de 1 m X 1 m, com um bloco a dividir em duas passagens, segue-se um poço de 5 m, a base é de cascalheira e muita argila desenvolvendo-se no sentindo E – O, na zona mais a O, pequeno patamar terminando ai este pequeno algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família fraturas de direcão grosseiraE-W, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul . A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícritos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Este até prometia olhando assim de cima antes de desbastar-mos o silvado queimado. Mas como muitos outros “foi sol de pouca dura”, paciência já esta cadastrado e aqui publicado!

Figura 12,13 – Planta e perfil desdobrado do Algar Cabrum.

Planta do Algar Cabrum em pdf para download

Algar Cabrum Planta

Perfil desdobrado do Algar Cabrum  em pdf para download

Algar Cabrum Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar Cabrum em pdf para download

F.E.Algar Cabrum

Fotos do Algar do algar Cabrum (Fotos: Filipe Castro – GEM).

Algar Élá

Que belo final de dia, depois de um dia inteiro a vasculhar recantos de “pedra branca e pau queimado”, ali estava ele a nossa espera, sereno como mais uma era se passasse….

Figura 14 – Foto da entrada do Algar Élá (Foto de Filipe Castro – GEM).

Descrição:

Na base de uma pequena elevação,  boa bancada se assim lhe podemos chamar e abre-se o algar à superfície, abertura com aproximadamente 2 m X 1 m, no sentido ONO – ESE. Segue-se poço de 7 m, a base de cascalheira e argila, o teto nesta zona mantem a mesma forma, a frente no mesmo sentido rampa de 10 m, alargando aqui o algar um pouco. Uns metros a frente recanto com formas de reconstrução no sentido NE, já o chão inicialmente tem inclinação no sentido SSO, mas vira para SE, é aqui de muito calhau de varias dimensões. Terminando aqui a zona de rampa com ressalto, na base pequeno oco no sentido NNO, já a frente um bom bloco totalmente colmatado de calcite e com bela coluna e estalactites de varias dimensões, de referir que aqui o teto desceu bastante em relação a zona inicial. Aqui o algar tem boa largura. A SO, zona de teto baixo em que o chão de muito calhau na zona final “encosta” a teto, não sendo possível qualquer progressão. Olhando para SE, verifica-se poço de 3 m de pouca dimensão sendo o fundo de argila e algumas ossadas. No mesmo sentido mas um pouco a esquerda em progressão, belo patamar com ricas e variadas formas de reconstrução sobressaindo as estalagmites. Zona em que se avança subindo, as paredes são forradas maioritariamente de calcite, excetuando zona a NE, uma reentrância com bom blocos e argila. Aqui o algar vai “afunilando, muita estalactites e estalagmites, o chão de calcite e uns belos e pequenos gours. Segue-se passagem estreita com subida em ressalto de 2m. Verifica-se grande alteração no algar pois as paredes são de pedra “nua”, chão de argila com inclinação no Sentido ONO, contrario a direção de progressão. Estamos numa zona de conduta forçada, que segue uns bons metros terminando a frente o algar na zona mais a ESE, com pequena bancada de calcite e argila.

Geologia:

A gruta apresenta algumas características compatíveis com uma gruta de origem freática, como o seu desenvolvimento sobretudo horizontal, as formas arrendondadas das paredes e o que poderão ser vagas de erosão. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio.

Presente:

Foi realmente um “Élá”, é sempre bom encontrarmos nesta zona um algar com estas características diferentes do habitual de poço atras de poço, apesar de pequeno tem de tudo um pouco e de referenciar que se situa em zona de falha. Detetamos guano na zona de conduta forçada mas pouco e aparentemente com muito tempo.

Figura 15,16 – Planta e perfil desdobrado do Algar Élá.

Planta do Algar Élá em pdf para download

Algar Élá Planta

Perfil desdobrado do Algar Élá  em pdf para download

Algar Élá Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar Élá em pdf para download

F.E.Algar Élá

Fotos do Algar do algar Élá (Fotos: Filipe Castro – GEM).

Texto: José Ribeiro    Geologia: Paulo Rodrigues.

Abraço.

Algares do cabeço dos Alecrineiros XXVI

•20 / 12 / 2020 • Deixe um Comentário

Ribeiro, José: 1,2; Lopes, Samuel: 1,4;Rodrigues, Paulo: 1,2,3

1)- – Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2560-218, Amadora, Portugal 

(2)- Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 

(3)- Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia 

(4) Wind -CAM- Centro de Actividades de Montanha, Rua Eduardo Mondlane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

Introdução

No seguimento da muita prospeção feita ao longo das ultimas saídas apresentamos mais alguns algares, a saber:

Algar do S, Buraco do Zé de Gatas, Algar Tudo Legal, Algar do Jalles, Buraco das Bolotas e Algar das 2 Salas.

Figura 1 – Localização dos algares, tendo como referencia o cruzamento conhecido na zona como “Os 4 caminhos”, assinalado com seta vermelha.

Adverte-se também e mais uma vez que para sua protecção e da própria cavidade o espeleólogo tem de ter obrigatoriamente formação!!!

Algar do S

Felizmente tínhamos varias equipes no terreno, uma delas veio para aqui, perto da zona do Algar da Bajanca e valeu o tempo, pois ficou a zona um pouco mais preenchida…..

Figura 2 – Foto da entrada do Algar do S (Foto de Marta Sequeira – GEM).

Descrição:

Algar com duas zonas bem distintas. Inicialmente o algar abre-se a superfície em zona por nós escolhida para descer com abertura aproximadamente de 1,5 m X 1 m, segue-se poço de 5 m. Base de muito calhau e argila com paredes forradas de musgo. No Sentido NNO, progressão a subir em que se verifica que a zona esta a “céu aberto” se assim podemos dizer, zona mais larga com forte silvado. Já na sua zona mais elevada a direção de progressão muda no sentido NO, aparecendo novamente teto, um pouco mais a frente nesta pequena sala chaminé com aproximadamente 2 m, já o chão é de calhaus de varias dimensões, sendo a progressão descendente no sentido NO, onde no final existe um pequeno recanto, terminando ai este tramo do algar.

Regressando ao poço de entrada e agora no sentido S, progressão em fenda, sendo esta alta e estreita, mas permitindo boa progressão, paredes com algumas formas de reconstrução e chão de cascalheira, o algar vai se desenvolvendo descendo no sentido de progressão, mais a frente vira no sentido ESE. No final desta pequena rampa, zona em que o algar alarga um pouco e virando no sentido E, aqui o teto desce em relação ao inicio deste tramo e o chão é de alguma argila e alguns calhaus, paredes com alguma calcite e algumas formas de reconstrução terminando um pouco a frente com chaminé de 3 m. Verifica-se um pouco antes, no sentido S, após vencermos pequeno e apertado destrepe, pequena sala com algumas formas de reconstrução chão de argila e algumas ossadas, terminando ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas família de fraturas de direcão grosseira NW – SE e NE-SW, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícritos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. O poço de entrada aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, o resto da cavidade não permite grandes ilações.

Presente:

Não se pense que foi só chegar aqui e “ver e vencer”, não foram varias saídas desde a identificação do algar até a sua exploração, captação de imagens e topografia. E valeu bem o esforço, pois é aqui que nos sentimos  bem, no terreno….

Figura 3,4 – Planta e perfil desdobrado do Algar do S.

Planta do Algar do S em pdf para download

Algar do S Planta

Perfil desdobrado do Algar do S em pdf para download

Algar do S Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar do S em pdf para download

F.E.Algar do S

Fotos do Algar do algar do S (Fotos: Rute Santos – GEM).

Buraco do Zé de Gatas

Bom ali bem perto um pequeno buraco que fica registado apenas, pois vamos encontrando alguns assim na prospeção. Sendo as coordenadas (WGS 84)  39.50500ºN  8.80465ºW.

Figura 5 – Foto da entrada do Buraco do Zé de Gatas (Foto de Paulo Lopes – GEM).

Algar Tudo Legal

Descemos e voltamos a subir um pouco e chamou-nos a atenção uma fenda muito bonita com as Heras a darem-lhe um toque especial……….

Figura 6 – Foto da entrada do Algar Tudo Legal (Foto de Rute Santos – GEM).

Descrição:

O algar abre-se à superfície numa fenda no sentido N, com a largura aproximadamente de 1 m, um pequeno ressalto e desce em rampa cerca de 3 m. Segue-se poço de 6 m, aqui já com teto a cobrir a progressão, em frente bloco entalado entre as paredes e em baixo pequenos ressaltos até chegarmos a base do poço.

A base é de muito calhau e argila, as paredes são de uma calcite branca que se está a desfazer, aliás todo o algar é assim. O teto volta a subir encostando-se praticamente à superfície, inclusive verifica-se uma pequena entrada. Esta zona desenvolve-se no sentido NE, já no sentido S, por de baixo de um ressalto uma fenda onde se vê um oco com fundo de argila e terminando um pouco a frente. No sentido NNO, depois de subirmos ressalto de 2 m, fenda de boa altura mas que vai estreitando à medida que se avança, terminando um pouco mais à frente o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direcão grosseira N-S, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal , datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso. De notar a proximidade da gruta, algumas dezenas de metros, a uma das falhas de direcção WNW-ESE, com preenchimento dolerítico que cortam o Planalto de Sto. António.

Presente:

Pequeno mas de muito trabalho, as paredes são forradas de uma calcite que se esta a desfazer, mas tivemos com muita calma ao mais alto nível…..

Figura 7,8 – Planta e perfil desdobrado do Algar Tudo Legal.

Planta do Algar Tudo Legal em pdf para download

Algar Tudo Legal Planta

Perfil desdobrado do Algar Tudo Legal em pdf para download

Algar Tudo Legal Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar Tudo Legal em pdf para download

F.E.Algar Tudo Legal

Fotos do Algar do algar Tudo Legal (Fotos: Rute Santos – GEM).

Algar do Jalles

Figura 9 – Foto da entrada do Algar do Jalles (Foto de Bruno Enes – GEM).

Este algar já foi alvo de trabalho, tendo sido descoberto por Álvaro Jalles (AES), foi feita uma exploração e a respetiva topografia, que fez com que procurássemos algo mais, não só por ter potencial como pela sua localização.

Figura 10 – Topografia Total do algar do Jalles, fruto do trabalho então efetuado.

Existe também uma publicação no  site  do N.A.L.G.A., que pode ser visto copiando este link:

Descrição:

O algar abre-se a superfície num campo de lapiás bem característico da região. Numa depressão que quase faz uma circunferência eis a abertura com cerca de 1,5 m X 1,5 m, aproximadamente. Segue-se poço de 12 m, abre um pouco a medida que se desce e começa-se a perceber o sentido de orientação da cavidade. A base é de muito calhau e argila.

No Sentido NO, pequena abertura já identificada em 2012, que após desobstrução nos leva a passagem estreita descendo no sentido de progressão, muita argila nesta zona. Segue-se pequeno espaço com cerca de 9 m X 1 m, aproximadamente em que tanto o tecto como o chão são irregulares, mas na zona final formas de reconstrução diversas e muito bonitas, com pequeno gours e algumas perolas de gruta, terminando ai esse tramo.

De regresso a base do poço e agora seguindo no sentido SE, o algar continua, descendo no sentido de progressão numa zona de muito bloco e argila, o tecto baixa  voltando a subir um pouco, até se chegar a novo poço de 28 m. Aqui encontramos algumas formas de reconstrução o poço é muito bonito e alarga um pouco na descida, verifica-se no sentido NO, descontinuidade preenchida de blocos e argilas, já no sentido SE verifica-se muitas formas de reconstrução parietais, a cerca de 18 m de descida de poço um patamar, o poço continua agora mais estreito terminando numa base replete de blocos e cascalheira onde se sente uma ligeira frescura mas sendo uma desobstrução “hercúlea”, termina ai a progressão. Já no patamar acima o algar desenvolve-se mais um pouco no sentido SE, zona de chão e tecto irregulares em que no final se verifica chaminé repleta de formas de reconstrução terminando ai o algar.

Verificou se a presença de salamandras e um pequeno sapo. Identificamos também pequenos frascos com produtos químicos que retiramos para colocar no lixo.

Geologia:

O algar do Jalles segundo a Folha 27-A da Carta geológica de Portugal à escala 1/50000 desenvolve-se na formação de Calcários bioclásticos do Codaçal datadas do Batoniano (Jurássico Médio) e com elevado potencial de carsificação.  De referir a proximidade do algar a uma das falhas, intruidas por rochas ígneas, de direcção aproximada NW-SE que cortam o planalto.

A gruta pode ser classificada com um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baroñ, 2003. O controlo estrutural do desenvolvimento da gruta é feito por descontinuidades cujas famílias têm atitude N50W/Vertical. A atitude local das camadas é subhorizontal ( a medição foi realizado no interior da gruta). As paredes dos poços apresentam caneluras de dissolução típicas de “vadose shafts”.

Presente:

Foi graças ao trabalho efetuado pelos nossos amigos, publicado na antiga topografia que voltamos ao algar do Jalles e ainda bem pois desvendamos mais um pouco do algar e melhoramos agora a topografia já com outros métodos e é sempre bom reviver aventuras e perceber a dificuldade que é desbravar o desconhecido.

Figura 11,12 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Jalles.

Planta do Algar do Jalles em pdf para download

Perfil desdobrado do Algar do Jalles em pdf para download

Ficha de equipagem do Algar do Jalles em pdf para download

Fotos do Algar do algar do Jalles (Fotos: José Ventura, José Ribeiro – GEM).

Buraco das Bolotas

Mais um buraco que fica aqui registado, estávamos por perto e fomos verificar, sendo as coordenadas (WGS 84)  39.50851ºN  8.81958ºW.

Figura 13 – Foto da entrada do Buraco das Bolotas (Foto de Filipe Castro – GEM).

Algar das 2 Salas

A este chegamos graças a partilha das coordenadas pelo António Afonso (ARCM), que esta sempre pronto a colaborar. Grande Tó assim é que é, e valeu bem o tempo……

Figura 14 – Foto da entrada do Algar das 2 Salas (Foto de José Ventura – GEM).

Descrição:

Numa zona de lapiás, um bom abatimento bem visível nas proximidades e abre-se o algar a superfície. Observa-se duas aberturas separadas por um grande bloco e argila, uma muito estreita e outra mais a N, por onde se consegue passar. Tem cerca de 1,5 m X 0,30 m na sua zona mais “acessível”, segue-se poço de 3 m, meio em destrepe. Por ai chegamos a um pequeno “oco”, chão de muita cascalheira e argila, teto irregular onde são bem visíveis as aberturas das entradas. A NE, verifica-se passagem que liga a outra zona do algar. No centro, poço de 13 m, largo com paredes lisas, sensivelmente a meio fica mais estreito, existindo o primeiro patamar que dá acesso a outro tramo. seguindo até a base do poço volta a estreitar nota-se alguns abatimentos e a 3 m da base novo patamar com bloco entalado, a base é de inclinação no sentido ONO, tem blocos inicialmente e termina em argila na zona mais a ONO.

Regressando ao primeiro patamar, no sentido N, passagem em poço de 3 m com paredes e tetos ricos em formas de reconstrução, até aparenta termos entrado noutro algar. A base com umas belas e gordas estalagmites, paredes forradas de calcite zona muito bonita, ao aproximarmo-nos a NNE, o teto sobe, verifica-se ai ligação a zona de entrada do algar. Um pouco mais a frente a zona abre consideravelmente, na sua maioria é cabeceira de poço de 6 m, do outro lado patamar dividido com bloco que já se encontra concrecionado dando um ar muito belo. As paredes do poço são de calcite, a base é de argila. A SO, passagem para pequena sala, sendo esta preenchida com blocos de varias dimensões terminando ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas família de fraturas de direcão grosseira NW-SE e NE-SE com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire, datada do Batoniano do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, apresentando caneluras de dissolução, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Que belo local e que algar espetacular, o mesmo algar e dois tramos tão destintos, foi um fantástico dia ficamos bem frescos pois a chuva não deu tréguas, mas valeu bem a pena e já se encontra cadastrado e agora aqui apresentado.

Figura 15,16 – Planta e perfil desdobrado do Algar das 2 Salas.

Planta do Algar das 2 Salas em pdf para download

Algar das 2 Salas Planta

Perfil desdobrado do Algar das 2 Salas em pdf para download

Algar das 2 Salas Perfil desdobrado

Pormenor da sobreposição de poços do Algar das 2 Salas em pdf para download

Pormenor da sobreposição de poços e patamares

Ficha de equipagem do Algar das 2 Salas em pdf para download

F.E.Algar das 2 Salas

Fotos do Algar do algar das 2 Salas (Fotos: José Ventura – GEM).

Siga, mais uma publicação conseguida com o esforço de todos que têm participado das diversas formas.

Texto: José Ribeiro    Geologia: Paulo Rodrigues.

Abraço.

Algares do cabeço dos Alecrineiros XXV

•5 / 12 / 2020 • Deixe um Comentário

Ribeiro, José: 1,2; Lopes, Samuel: 1,4;Rodrigues, Paulo: 1,2,3

1)- – Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2560-218, Amadora, Portugal 

(2)- Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 

(3)- Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia 

(4) Wind -CAM- Centro de Actividades de Montanha, Rua Eduardo Mondlane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

Introdução

Nesta publicação deslocamo-nos mais para a zona entre a Moita do Açor e São Bento. Tal qual onde tínhamos ficado na ultima publicação, muito graças ao Sr. António Ferraria e ao Sr. Católico, conterrâneos e muito conhecedores dos algares que por ali se encontram. Aproveitamos também o trabalho efetuado pelos nossos amigos do Núcleo de Espeleologia de Leiria (NEL), no algar Covão Sabugueiro e no algar do Bezerro, apresentando-os aqui para enriquecer um pouco mais o nosso projeto. Juntamos assim um bom grupo de algares, uns pequenos outros maiores, mas todos eles deram muito trabalho, conhecimento e convívio que não pode faltar!!!!

A saber : Algar do Penedo do Pico III, Algar do Penedo do Pico IV, Algar do Penedo do Pico V, Algar do Bezerro, Algar das Lages, Algar do Católico, Algar Covão Sabugueiro e Algar do Sabugueiro.

Figura 1 – Localização dos algares, tendo como referencia a localidade de Covão do Sabugueiro.

Algar do Penedo do Pico III

Muito graças aos algares indicados pelo Sr. António Ferraria, percebemos que a área tinha potencial para mais algares, alguma prospeção e ali estava ele a nossa espera.

Figura 2 – Entrada do algar do Penedo do Pico III (Foto de Filipe Castro – GEM).

Descrição:

Após retirarmos alguns blocos para conseguirmos entrar no algar, a sua boca tem aproximadamente 1 X 1 m, com um bloco que ali ficou entalado mas bem fixo. Segue-se um poço de 7 m, descendo no sentido SSO, com algumas formas de reconstrução alarga a medida que descemos. A base um pouco mais estreita é de cascalheira e alguma argila. Aqui no sentido S, pequena passagem de 3 m com inclinação no mesmo sentido, no final e após desobstrução, pequeno poço de 4 m. Acedemos a uma sala com cerca de 6 X 4 m, de teto e base bastante irregular, blocos de boas dimensões aqui e ali e muitas formas de reconstrução. Na zona mais a S, algumas pequenas aberturas mas colmatadas de argila e cascalheira, terminando ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira N-s, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Tiramos os blocos que obstruíam a entrada e já em exploração ficamos felizes por não ser mais um “elevador”. Cheios de “pica”, desobstruímos o caminho a seguir e fomos presenteados com uma bela sala. Infelizmente termina ai o algar, mas é mais um que fica cadastrado e aqui por nós partilhado. E nunca esquecer que voltamos a tapar a sua entrada, pois temos indicação que por vezes o gado anda por aqui em pastar.

Figura 3,4 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico III.

Planta do Algar do Penedo do Pico III em pdf para download

Algar do Penedo do Pico III Planta

Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico III em pdf para download

Algar Penedo do Pico III Perfil

Ficha de equipagem do Algar do Penedo do Pico III em pdf para download

F.E.Algar do Penedo do Pico III

Fotos do Algar do Penedo do Pico III (Fotos: Filipe Castro – GEM).

Algar do Penedo do Pico IV

Este estava mesmo ao lado, até pensamos que faria parte do mesmo…..

Figura 5 – Entrada do algar do Penedo do Pico IV (Foto de José Ribeiro – GEM).

Descrição:

A boca do algar tem aproximadamente 1 X 0,50 m, sendo a direção no seu comprimento NO-SE, segue-se um poço de 2 m. A base com cerca de 1,50 m de diâmetro esta completamente fechada com blocos e calhaus de varias dimensões, verifica-se pequenos recantos dando a perceber pequenos ocos, mas sem presença de qualquer corrente de ar, terminando ai este pequeno algar.

Geologia:

A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.

Presente:

Bom decidimos colocar também este pequeno algar por estar muito próximo do algar do Penedo do Pico III, para conhecimento geral e também para que os trabalhos não se repitam. E os pequenos também contam!!!

Figura 6,7 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico IV.

Planta do Algar do Penedo do Pico IV em pdf para download

Algar do Penedo do Pico IV Planta

Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico IV em pdf para download

Algar do Penedo do Pico IV Perfil

Fotos do Algar do Penedo do Pico IV (Fotos: José Ribeiro – GEM).

Algar do Penedo do Pico V

Estava um daqueles dias de calor, diria quase insuportável, mas rendeu bem ali a nossa espera, numa fenda de lapiás bem visível, com uns valentes calhaus a tapá-lo….

Figura 8 – Entrada do algar do Penedo do Pico V (Foto de Filipe Castro – GEM).

Descrição:

No rebordo de um campo de lapiás, e numa fenda (se assim lhe podemos chamar) bem marcada, abre-se o algar à superfície. A sua entrada é no sentido NNO-SSE, tem cerca de 1 m X 0,50 m. Segue-se um poço de 7 m, poço esse que alarga à medida que se desce, inclusive a cerca de 3 m, de profundidade existe um poço paralelo que volta a ligar na base do poço de descida, são ricas as formas de reconstrução nomeadamente no poço paralelo- Identificámos também um enorme numero de grandes aranhas, protegendo os seus casulos,  a sua futura prol. A base é de forte inclinação, tem argila e cascalheira e esta carregada de ossadas de vários animais. Ai percebemos a união dos 2 poços, um pouco mais a frente ficamos num pequeno patamar onde observamos novo poço de 4 m, desenvolvendo-se este no sentido SSO, a base tem inclinação no mesmo sentido esta “pejada” de ossadas e foram identificadas salamandras e vários tipos de insetos. No final deste tramo pequena abertura no recanto mais a SSO, identificado na topografia.

Terminaria ai para nós o algar, mas identificamos na cabeceira do poço de 4m, pequena fenda no sentido NNE, após desobstrução pequena diáclase com desenvolvimento de aproximadamente 5 m, rica em formas de reconstrução e onde se consegue andar bem em pé. No final pequeno poço completamente colmatado de argila, terminando ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas família de fraturas de direção grosseira NE-SW e NW-SE, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Muito interessante este pequeno algar, as formas de reconstrução as pequenas passagens e claro a “pica” de descobrir algo novo. Não menos importante este estar carregado de vida, pena ter sido em tempos um cemitério de vários tipos de animais. Bom voltamos a tapa-lo e mais um que fica carregado no nosso cadastro e aqui partilhado para conhecimento geral.

Figura 9,10 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico V.

Planta do Algar do Penedo do Pico V em pdf para download

Algar do Penedo do Pico V Planta

Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico V em pdf para download

Algar do Penedo do Pico V Perfil

Ficha de equipagem do Algar do Penedo do Pico V em pdf para download

F.E.Algar do Penedo do Pico V

Fotos do Algar do Penedo do Pico V (Fotos: Filipe Castro, Jorge Faustino – GEM).

Algar do Bezerro

Andávamos para ali nós a “bater” terreno e nada até que aparece um conterrâneo conhecido por ali como Mocho, mas não gosta que o tratem assim, vai se lá perceber. Bom, conversa puxa conversa e lá nos indicou que ali ao longe a 50 m dos eucaliptos esta lá um algar encostado a estrada…. Bem escusado será dizer que os 50 metros cresceram muito…….

Bom, uns dias depois tivemos conhecimento quem já tinha explorado o algar e o porque do nome!!!

Figura 11 – Entrada do algar do Bezerro (Foto de Bruno Enes – GEM).

Descrição:

Encostado a um estradão que se direciona ao cemitério de São Bento, abre-se o algar a superfície, a entrada tem cerca de 1 m X 0,5 m, tem umas vigas a tapar a entrada. Segue-se poço de 5 m, após a entrada alarga o suficiente para se descer a vontade. A base é de muita argila e alguns calhaus, no sentido NNE, fecha a progressão, já no sentido SSO, o algar desenvolve-se notando-se irregularidades no teto onde se observa algumas estalactites numa zona é que o teto desce um pouco, as paredes são de pedra lisa e em alguns pontos tem formas de reconstrução. O chão inicialmente de argila tem inclinação no sentido SSO, virando para E, onde começa a ser de blocos de varias dimensões. O algar desenvolve-se agora no sentido E, após descida de teto, passagem para zona um pouco apertada onde o algar bifurca. Teto irregular muito calhau no chão e paredes também muito irregulares. No sentido ENE, a passagem prolonga-se por 5 m aproximadamente começando a subir e terminando um pouco mais a frente. Já no Sentido ESE, verifica-se probabilidades de continuação tanto no chão como em frente mas requere muito trabalho de desobstrução, a passagem é muito estreita, terminando para nós ai o algar.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas família de fraturas de direção grosseira NW-SE e NE-SW, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW –SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Olhem belo dia de camaradagem, algar simples mas com alguma historia, tivemos conhecimento dela pelos nossos amigos Fael e Hugo do NEL e aqui vai:

O algar do Bezerro foi indicado pelo Sr. Ricardo, que vinha com um bezerro acabado de nascer, trazia-o ao seu colo e ao passar no local o chão abateu e uma das pernas ficou dentro do buraco que se abriu. O Sr. Ricardo informou os elementos do NEL do sucedido, mais tarde alargaram a entrada e desceram o algar. Foi feita a sua exploração e levantamento topográfico.

E prontos é isto, espetáculo!!!!!

Figura 12 – Topografia do Algar do Bezerro.

Topografia do Algar do Bezerro em pdf para download

algar bezerro Top

Ficha de equipagem do Algar do Bezerro em pdf para download

algar bezerro equipagem

Fotos do Algar do Bezerro (Fotos: Marco Matias  – GEM).

Algar das Lages

Num local muito interessante mesmo encostado ao chouso, ali estava ele, reparamos claramente que foi obstruído mas deixa lá ver.….

Figura 13 – Entrada do algar das Lages (Foto de Marco Matias – GEM).

Descrição:

Encostado a um muro, abre-se o algar a superfície com entrada de aproximadamente 1 m, de diâmetro. Abertura irregular preenchida grande parte por blocos e lajes de boas dimensões. No seu canto mais a E, ressalto estreito de 2 m, por onde se entra no pequeno algar, apercebemo-nos rapidamente da grande quantidade de pedra que ali foi colocada. Um pouco a frente vira-se no sentido N, sempre a rastejar mas agora praticamente sem inclinação, chegamos a uma pequena sala em que se consegue estar de pé. No teto pequena abertura que liga a superfície, paredes irregulares e algumas formas de reconstrução algumas de bom tamanho, chão com alguns calhaus e muita argila. No canto mais a N, pequena abertura no sentido O, onde se entra um pouco subindo com fundo de argila e mais tarde juntando-se ao teto, terminando ai o algar.

Geologia:

.A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.

Presente:

Bom este é mais um pequeno algar que claramente foi obstruída a sua continuação, verifica-se no terreno ao lado no sentido O, um abatimento que de alguma forma deve estar relacionado com o algar, mas o objetivo do Projeto não é “esburacar tudo”, mas sim a partilha de conhecimento e já esta, aqui e agora.

Figura 14,15 – Planta e perfil desdobrado do Algar das Lages.

Planta do Algar das Lages em pdf para download

Algar das Lages Planta

Perfil desdobrado do Algar das Lages em pdf para download

Algar das Lages Perfil desdobrado

Fotos do Algar das Lages (Fotos: Marco Matias – GEM).

Algar do Católico

Este quem nos indicou foi o Sr. Católico, dai o nome que demos ao algar. Vive mesmo ali ao lado no sitio Casal Velho, é conhecedor de muitos algares da zona e tem cá com cada historia para contar…..

Figura 16,17 – Foto do Sr. Católico e entrada do algar do Católico (Fotos de Rui Pina, Rute Santos – GEM).

Descrição:

O algar abre-se a superfície com pequena abertura de cerca de 1 m x 0,5 m, aproximadamente. Normalmente tapado com troncos e pedras. Segue-se um poço de 12 m, com alguns recantos mas alarga um pouco na descida. as paredes tem muita argila e algumas pedras, com as quais devemos ter cuidado.

A base com inclinação no sentido O, é de cascalheira argila e muito lixo. Por ai se desenvolve este pequeno algar, após passagem de 3 m, pequena sala rica em formas de reconstrução, com aproximadamente 4 m X 3 m. Por de baixo desta sala verifica-se passagem muito apertada no sentido OSO,  onde foi feita desobstrução, da qual desconhecemos a autoria.  Passagem muito estreita de onde se chega a pequeno recanto com aproximadamente 2 m X 0,5 m. Ai verifica-se uma probabilidade de continuação do algar no seu canto mais a E, sendo muito apertado e na vertical.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira W-E, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.

Presente:

Segundo relatos de alguns conterrâneos, ao lado desde pequeno algar onde agora se pode ver um grande monte de pedra e argilas, existia a abertura de um algar muito fundo, sendo esta obstruída muito por causa da proximidade da estrada e segundo os mesmo para se proteger animais e pessoas. Pergunto-me se não seria mais simples “vedar”.

Bom, provavelmente aquela pequena abertura identificada na topografia com ponto de interrogação comunica a esse suposto algar, não sendo de estranhar a pequena corrente de ar que se sente.

Da nossa parte o trabalho esta feito e partilhado aqui para conhecimento geral.

Figura 18,19 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Católico.

Planta do Algar do Católico em pdf para download

Algar do Católico Planta

Perfil desdobrado do Algar do Católico em pdf para download

Algar do Católico Perfil desdobrado

Ficha de equipagem do Algar do Católico em pdf para download

F.E.Algar do Católico

Fotos do Algar do Católico (Fotos: Rute Santos – GEM).

Algar Covão Sabugueiro

Este está em exploração pelos amigos do NEL e graças a eles partilhamos aqui algum desenvolvimento dos trabalhos.

Figura 20 – Entrada do algar do Covão Sabugueiro (Foto de Filipe Castro – GEM).

A malta do NEL, continua em trabalho de desobstrução e com o Covid-19, não tem sido fácil. Bom aguardamos por mais novidades. Fica aqui uma fotografia da zona e respetivas coordenadas.

Figura 21 – Zona do algar do Covão Sabugueiro, com muro de proteção para evitar possíveis abatimentos no teto da galeria principal. (Foto de Filipe Castro – GEM). Coordenadas : (WGS 84)  39.52189  -8.78920

Algar do Sabugueiro

Bom na realidade para este fomos caminhando, colhendo e comendo, figos e amoras silvestres e ao mesmo tempo apresentámo-nos  a um conterrâneo que ali passava e que nos indicou este algar.

Figura 22 – Entrada do algar do Sabugueiro (Foto de Marco Matias – GEM ).

Descrição:

O algar abre-se a superfície com boca de boas dimensões, 3,5 X 1,5 m, aproximadamente, a abertura é no sentido NE-SO, segue-se um poço de 13 m, descendo ligeiramente no sentido NO. A base de boas dimensões, esta completamente atolada em blocos de varias dimensões, alguma argila e bastante lixo, tem inclinação no sentido NO. Ai sempre encostado nas zonas mais a NO percebe-se que o algar esta completamente bloqueado, pequenos ocos a que se consegue aceder em 2 passagens em destrepe tanto a  NE, como a SO, passagens essas que estão completamente entulhadas, terminando ai o algar.

Detetamos a presença de algumas salamandras, principalmente no poço de entrada.

Geologia:

A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direcão grosseira NW-SE, subvertical. As camadas localmente são subhorizontais. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso..

Presente:

E já esta, um belo poço de entrada, algum trabalho e mais um cadastrado e partilhado.

Figura 23,24 – Planta e perfil desdobrado do Algar do Sabugueiro.

Planta do Algar do Sabugueiro em pdf para download

Algar do Sabugueiro Planta

Perfil desdobrado do Algar do Sabugueiro em pdf para download

Algar do Sabugueiro Perfil

Ficha de equipagem do Algar do sabugueiro em pdf para download

F.E.Algar do Sabugueiro

Fotos do Algar do Sabugueiro (Fotos: Marco Matias – GEM).

E já esta amigos mais uma publicação do nosso projeto, em breve chegaremos as 100 cavidades neste pequeno pedaço do PNSAC, onde tantas aventuras temos vivido e tão boa gente temos conhecido…..

Texto: José Ribeiro    Geologia: Paulo Rodrigues.