Algar dos Alecrineiros – Resultado dos Trabalhos


O Núcleo de Amigos das Lapas Grutas e Algares vem por este meio apresentar os resultados dos trabalhos realizados no Algar do Alecrineiros. O conjunto de resultados apresentados consiste num pequeno resumo dos trabalhos, topografia da gruta (disponibilizada também em jpg) e um artigo sobre a espeleogénese da gruta (também disponível em pdf). Esta página pode também ser visualizada na sua versão inglesa.

Vista do 2º poço (P22)

RESUMO DOS TRABALHOS

O Algar dos Alecrineiros, apesar de ser há muito conhecido pela comunidade espeleológica, carecia, tanto quanto é do nosso conhecimento de uma topografia publicada, bem como de um estudo, mesmo que preliminar, sobre a sua génese. Foi o intento de preencher esta lacuna que nos motivou a levar a cabo os trabalhos realizados nesta cavidade.

Os trabalhos realizados foram sobretudo no âmbito da topografia e levantamento geológico da cavidade.

Levantamento topográfico

A topografia e exploração do Algar dos Alecrineiros foi realizada em 4 actividades, pelo Núcleo de Amigos das Lapas Grutas e Algares – NALGA e pela Associação de Espeleólogos de Sintra – AES. As actividades foram levadas a cabo nas seguintes datas: 23/12/06 ,13/02/07, 17/02/07, 25/03/07. De referir que a actividade de 17/02/07 foi realizada no âmbito do aniversário da AES.

O grosso das saídas foi realizada pelos companheiros que passamos a enumerar: Afonso Vargas Loureiro (NALGA), Elisabete Dias (NALGA), Paulo Almeida (NALGA), Paulo Rodrigues (NALGA) and Pedro Robalo (NALGA/AES).

Aproveitamos esta oportunidade para agradecer a participação de todos os membros de outros grupos de Espeleologia que participaram , aquando do aniversário da AES, nos trabalhos de exploração e topografia. Ficam aqui os seus nomes e associações: Marco Costa – Núcleo de Espeleologia da Associação Académica da Universidade de Aveiro – NEUA e Miguel Pessoa – Núcleo de Espeleologia de Condeixa-NEC.

Aproveitamos também esta oportunidade para agradecer todo o apoio que a AES nos deu na realização destes trabalhos.
Em Novembro de 2008 os trabalhos foram retomados neste algar, desta vez pelo colectivo de do GESB-Grupo espeleo-S.Bento. Foi efectuado o alargamento do final do poço Este, aumentando a profundidade máxima da cavidade para -81m, no final deste novo poço foi encontrado um buraco soprador, que poderá ser prometedor. Em Dezembro do mesmo ano, o GESB voltou a este algar para fazer a topografia desta nova zona e alargar passagem para outra pequena sala lateral onde não foi encontrada continuação. Um especial agradecimento ao pessoal do NEALC (André Gaspar, João Louro e Orlando Elias), que foram fundamentais nos trabalhos de desobstrução.

LOCALIZAÇÃO
Distrito: Leiria , Concelho: Porto-de-Mós, Freguesia: S. Bento
Coordenadas UTM Datum WGS84: 29S 516098, 4374283
Altitude da boca: 540m
TOPOGRAFIA

A topografia foi realizada utilizando sobretudo uma bússola e clinómetro de marca Suunto, modelo Taden, fita métrica de fibra de vidro de classe III e um distanciometro laser de marca Hilti

ESPELEOMETRIA:

Desnível total= -81 m, Ponto mais alto=0 m, Ponto mais baixo= -81 m

Desenvolvimento total= 232m, Desenvolvimento horizontal= 71malicrineiros-layout1a
Uma cópia da topografia em ficheiro jpg pode ser descarregada clicando aqui

 

TRABALHOS FUTUROS

Na zona mais profunda da gruta, no meio dos blocos que fecham a base do poço, existe um buraco que sopra uma forte corrente de ar. Terá de ser avaliada a hipotese de efectuar uma nova desobtrução.

ESPELEOGÉNESE

Um dos resultados dos trabalhos realizados no Algar dos Alecrineiros foi um artigo sobre a sua espeleogénese. O artigo completo pode ser descarregado através do “link” que se segue. artigo_alecrineiros.pdf

Um resumo do artigo acima referido encontra-se em baixo.

Espeleogénese do Algar dos Alecrineiros

O algar dos Alecrineiros é uma cavidade que se desenvolve no Planalto de St. António, Portugal. Com base na análise da Folha 27-A – Vila Nova de Ourém da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000, observa-se que a cavidade se desenvolve na formação dos Calcários mícriticos da Serra de Aire. Em termos estruturais, e com base na análise expedita da Folha da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000, acima referida, o Planalto de St. António corresponde a um monoclinal com algumas flexuras, em que as formações apresentam uma direcção regional que varia entre aproximadamente WNW-ESE e NW-SE , inclinando suavemente para Sul. Este monoclinal é cortado por uma série de falhas com direcção aproximada WNW-ESE- NW-SE. A cavidade é controlada estruturalmente por duas grandes famílias de descontinuidades, que se intersectam entre si. Uma das famílias tem uma atitude aproximada E-W a N70W/subvertical, a outra tem uma atitude de cerca de N-S a N30E/subvertical. As zonas controladas pelas descontinuidades de atitude N-S a N30E/subvertical são menos desenvolvidas que as controladas pelas de atitude E-W a N70W/subvertical. A profundidade dos poços varia geralmente entre a dezena e as duas dezenas de metros, a sua secção transversal máxima, em zonas onde não se registaram abatimentos, é da ordem de 3-4 m de diâmetro. As ligações entre os vários poços são muitas vezes feitas através de passagens de secção relativamente reduzida, situadas junto ao fundo dos poços ou a meia altura das paredes dos poços. A cavidade apresenta uma organização muito simples, a morfologia das passagens é, nos casos em que não se verificou uma destruição, por abatimentos, da estrutura original, alta e estreita, mantendo de um modo grosseiro a forma da descontinuidade ao longo da qual se desenvolveram. É de notar que praticamente todos os troços da gruta seguem descontinuidades subverticais, sendo estas características definidas por Bögli (1980) como sendo de uma cavidade de origem vadosa primária. Os poços apresentam nas suas paredes caneluras, a secção transversal destas caneluras chega a atingir vários decímetros e o seu comprimento é da ordem de grandeza da profundidade dos poços Este género de caneluras apresentam características muito semelhantes, às descritas por Baroñ (2003). Segundo o autor anterior estas caneluras formam-se pelo efeito corrosivo e erosivo da água que escorre, goteja, ou segundo Lauritzen e Lundberg, (2000) pela própria aspersão da água, ao longo das paredes de fracturas subverticais, o que é aliás típico do regime vadoso, segundo Laurutzen e Lundberg (2000). O desenvolvimento da cavidade, sempre, ao longo de descontinuidades subverticais, a existência de vários poços que cresceram ao longo da mesma descontinuidades, ligados entre si por passagens mais ou menos largas, possivelmente com uma evolução separada antes da ligação, o regime vadoso de desenvolvimento, e a terminação dos vários poços mais profundos da gruta em passagens intransponíveis ou em caos de blocos apontam para que esta gruta se encontre instalada numa zona epicársica tal como a definida por Klimchouck, (2000). A morfologia deste algar e o seu enquadramento apresenta muitas semelhanças aos dos “Karst Shafts” descritos por Baroñ (2003). Com base no modelo de desenvolvimento proposto pelo autor anterior e nas fases de desenvolvimento de cavidades propostas por Bögli (1980) é proposto um modelo de evolução da cavidade em 4 fases: Inicial, Jovem, Matura e Tardia. Sendo que esta gruta se encontra na fase Tardia.Em suma, o Algar dos Alecrineiros é uma cavidade que se desenvolveu na base da zona epicársica do Planalto de St. António em regime que se pode considerar vadoso. Actualmente encontra-se num estado tardio de desenvolvimento, apesar de se continuar a verificar a infiltração de água a partir da superfície.


3 Respostas to “Algar dos Alecrineiros – Resultado dos Trabalhos”

  1. Nous ne connaissions pas le nom de cet Algar (mais nous l’avons visité) et nous avons baptisé du même nom un algar que nous explorons depuis août 2007.
    En mars 2008, nous avons atteint – 220 m dans cette nouvelle cavité située plus au sud de la borne géodésique d’Alicrinairos.
    Michel Soulier. S.S.A. Caussade – France.

  2. Trabalho belíssimo!!! 🙂

  3. Olá,

    Refletindo no facto de ser uma cavidade num estado de evolução “tardio”…a minha ideia é que durante uma glaciação o regime de pluviosidade em Portugal e outros países, seria muito mais intenso, existem indícios por todo o Portugal de fortes desenvolvimentos de cavidades e mesmo à superfície de marmitas nos cursos de água a uma cota muito superior à do leito atual (mesmo em xistos como no Pego das Pias, as marmitas “fósseis” estão a 4m de altitude em relação à superfície do curso de água atual).
    Penso que a razão é que estamos a atravessar um período interglaciar onde a pluviosidade é muito menor. Assim a atividade de dissolução e abrasão, quase que parou ou é muito fraca, ou só se regista em alturas do ano escassas, existindo mais agora o regime de concrecionamento (estando sempre a falar de cavidades mais superficiais).
    Concordam?

    Abraço
    Susana

    PS.muitos parabéns pelo Vosso trabalho

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